O Centro Comercial Stop, cuja maioria das lojas estavam arrendadas por músicos e que fechou na passada terça-feira, poderá ter um novo vizinho.
Segundo projetos já tornados públicos, está prevista a construção de um empreendimento turístico e imobiliário no Quarteirão da Oficina do Ferro, nas traseiras do Stop.
Em julho do ano passado, a Imóveis e Empreendimentos Hoteleiros (IME) promoveu um Concurso de Conceção em parceria com a Ordem dos Arquitetos - Secção Regional do Norte, que permitisse "fazer uma reflexão sobre o melhor enquadramento conceptual para um eventual futuro investimento naquela área".
"Em termos programáticos, pretende-se a conceção de um hotel, de apartamentos turísticos e de habitação acessível, nos termos do estabelecido no Programa Preliminar do concurso", pode ler-se no mesmo, disponível no "site" dedicado ao concurso.
De acordo com os anexos do concurso consultados pela Lusa, a área de intervenção não inclui o Centro Comercial Stop, mas uma das entradas para o empreendimento será feita no edifício contíguo, onde já existe um portão que dá acesso ao quarteirão em causa.
Além dos terrenos nas traseiras do Stop, naquela zona a IME é também proprietária do hotel Eurostars Heroísmo, precisamente na mesma rua do centro comercial, segundo o seu "site".
"A área de intervenção tem atualmente um acesso pela Rua do Heroísmo e terá futuramente outro pela Rua do Barão de Nova Sintra, fixando, assim, dois pontos de conexão com a estrutura viária diretamente envolvente e existente, e que servirão a intervenção", pode ler-se nos documentos do concurso.
O administrador de condomínio do centro comercial Stop disse esta quinta-feira à agência Lusa que o dono da empresa hoteleira IME, dona do terreno nas traseiras, manifestou interesse no espaço, mas sem apresentar propostas.
A Lusa questionou a IME sobre contactos com o administrador do Stop e sobre o empreendimento nas traseiras do centro comercial denominado Quarteirão da Oficina do Ferro, e aguarda resposta.
No quarteirão situava-se a chamada Quinta dos Oliveiras, e em 1917 "a Empreza Ferro Esmalte, Limitada, decide edificar uma fábrica e todas as estruturas de apoio" no local.
Em 1920 e 1922 a Companhia Metalúrgica do Norte procede a "alterações da entrada pela Rua do Heroísmo", e em 1934, as instalações são adaptadas pela Manuel Alves de Freitas & Companhia a Palácio Ford, como ainda hoje é conhecido, "com motores de automóveis, camiões e aviões, para além de tratores".
De lá saíram três Ford V8 de competição conduzidos pelo cineasta Manoel de Oliveira, por Giles Holroyd e por Eduardo Ferreirinha.
Para o novo projeto, um pedido de esclarecimento de um concorrente assinalava a "prevalência unicamente de pequena tipologia (T0 e T1)" para alojamentos turísticos e habitação acessível, questionando que se "a enorme carência de habitação na cidade é sentida sobretudo pelas famílias de classe média que procuram casas com áreas maiores do que as de um T1", não seria possível "equacionar outras tipologias para alargar o leque de oferta a agregados familiares com mais de duas pessoas".
Na resposta, o júri referiu que "foram escolhidas as tipologias T0 e T1 com o fim único de avaliar a capacidade dos concorrentes em propor um modelo de habitação na área de intervenção", mas o promotor poderia "futuramente optar por tipologias diversas".
O concurso, que teve três concorrentes, foi ganho pelos arquitetos Rafael Montes e Miguel Acosta com uma percentagem de 41%, mas o júri "lamentou que as propostas de intervenção apresentadas não correspondam ao desafio lançado no campo disciplinar da arquitetura, também pela oportunidade que representa para a cidade, sua transformação e evolução futura".
"Manifestou-se, assim, pela fragilidade das três propostas apresentadas, as quais revelam um fraco entendimento do lugar, não estabelecendo relações com o tecido urbano envolvente", refere o relatório, que não obriga à adoção da proposta vencedora para o terreno.
Na quarta-feira, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, garantiu que não vai autorizar a construção de "nenhum hotel" no local do centro comercial Stop e que a compra do edifício pela autarquia não é viável, algo que reiterou hoje.
Na terça-feira, o administrador de condomínio do Stop, Ferreira da Silva, disse que o centro comercial não pode ser vendido como um todo, devido à propriedade do mesmo ser partilhada pelos donos das lojas.