O Comando das Nações Unidas liderado pelos Estados Unidos iniciou conversações com a Coreia do Norte sobre o soldado americano que atravessou a fronteira entre a Coreia do Norte e Coreia do sul, um dos locais mais militarizados do mundo.
Segundo o The Guardian, o tenente-general britânico Andrew Harrison, que ajuda a liderar o comando da ONU, não avançou exatamente quando começaram as negociações sobre Travis King, nem se estas têm sido produtivas ou quantas trocas de informações já ocorreram. Andrew Harrison também não avançou detalhes sobre o estado de saúde de Travis King.
"Nenhum de nós sabe quando isto vai terminar. Eu sou, por norma, um otimista e permaneço otimista", disse Harrison em declarações aos jornalistas, na capital coreana, Seul. "Mas, vou limitar-me a isso", acedeu.
Harrison acrescentou que as comunicações entre o Comando da ONU e a Coreia do Norte sobre King se deram no âmbito do armistício de 1953, que interrompeu os combates durante a guerra da Coreia.
Harrison não entrou em detalhes, mas, ao que a Associated Press adiantou, o tenente-general poderia estar a referir-se a linhas telefónicas entre o Comando da ONU – criado aquando da guerra – e o Exército da Coreia do Norte em Panmunjom, a aldeia que King cruzou no dia 18 de julho.
Os comentários de Harrison sobre o início das negociações sobre King deram-se quatro dias depois de os EUA acusarem a Coreia do Norte de não responder às suas tentativas de iniciar negociações.
Travis King deveria dirigir-se para o Texas, depois de concluir uma sentença de prisão na Coreia do Sul por agressão. Potencialmente a enfrentar sanções disciplinares e dispensa de serviço, o soldado realizou uma visita civil a Panmunjom na terça-feira, quando atravessou a fronteira para a Coreia do Norte.
As testemunhas no local relataram que Travis atravessou a fronteira entre os dois países a rir. Os países permanecem em guerra, porque nenhum tratado foi assinado.
Travis King, de 23 anos, é o primeiro norte-americano conhecido a ser detido na Coreia do Norte em quase cinco anos, desde o caso de Bruce Byron Lowrance, que atravessou ilegalmente a fronteira sino-norte-coreana em 2018.
Os EUA aliaram-se à Coreia do Sul durante a Guerra da Coreia, sem nunca estabelecer relações diplomáticas com o Norte. Por vezes era estabelecido contacto através da linha telefónica do armistício, mas a Coreia do Norte pode estar relutante em libertar King para os EUA, dado o passado histórico-político envolvente, de acordo com alguns especialistas.
Os últimos três detidos norte-americanos na Coreia do Norte foram libertados em 2018. À data, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, estava empenhado em estabelecer uma diplomacia nuclear com o governo de Donald Trump.
Um ano antes, um estudante americano, Otto Warmbier, morreu poucos dias depois de ser libertado em estado de coma, após 17 meses em cativeiro. Warmbier e outros reféns americanos na Coreia do Norte foram retidos por várias acusações, incluindo subversão e espionagem.
Travis King estava ao serviço da 1ª divisão armada do exército dos EUA. Um tribunal em Seul condenou-o à prisão e multou-o em 5 milhões de won (cerca de 3.900 dólares americanos) por agressão a uma pessoa não identificada, além de danificar um veículo da polícia.
Os familiares referiram que Travis poderia não estar a saber lidar com as sanções aplicadas e dispensa do exército, quando planeou a visita a Panmunjom, uma área sem residentes civis, supervisionada conjuntamente pelo Comando da ONU e pela Coreia do Norte.