"Aumento gigantesco". Banco Alimentar já apoia 100 mil pessoas no Porto e em Braga
03-02-2021 - 13:59
 • Olímpia Mairos

A maioria das pessoas a pedir ajuda está a fazê-lo pela primeira vez. São “famílias na faixa etária ativa, a maioria delas sofreu cortes ou perda salarial”.

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Os números são assustadores e tendem a aumentar nos próximos tempos. Os pedidos de ajuda ao Banco Alimentar do Porto e ao Banco Alimentar de Braga não param de crescer e situam-se em níveis preocupantes. Cerca de 100 mil pessoas estão a receber apoio daqueles dois bancos.

“Em 2019, o Banco Alimentar recebeu, diretamente, 71 pedidos de ajuda que encaminhou para as instituições sociais do distrito. E em 2020 recebemos mais de 500 telefonemas. Portanto, o aumento é gigantesco, em termos mensais”, conta à Renascença a responsável do serviço social do Banco Alimentar do Porto, Inês Pinto Cardoso.

O aumento dos pedidos de ajuda situa-se nos 600%, numa altura em que a instituição está a apoiar mais de 60 mil pessoas com alimentos, 25 mil com cabazes alimentares todos os meses e as restantes através de 300 instituições do distrito que servem refeições sociais à população mais vulnerável, como idosos, crianças vítimas de maus-tratos, jovens grávidas e vítimas de violência doméstica.

De acordo com Inês Pinto Cardoso, a maioria das pessoas a pedir ajuda são “famílias na faixa etária ativa, a maioria delas sofreu cortes ou perda salarial”.

“São pessoas nas faixas etárias entre os 20 e 45/50 anos que viram a sua situação económica agravar-se com a pandemia”, esclarece, acrescentando que as pessoas procuram o Banco Alimentar “numa situação de limite a solicitar apoio alimentar e, principalmente com este fecho das escolas e dos confinamentos, é problemático para muitas famílias”.

“Os filhos estão de regresso a casa, as escolas deixam de dar a refeição às crianças, é mais uma refeição que a família tem de suportar e isso é assustador para quem já está a passar um mau bocado”, afirma a responsável do serviço social do Banco Alimentar do Porto.

Banco Alimentar vai racionar distribuição de massa

O mês de fevereiro e de março está garantido em termos de ajuda e do Banco Alimentar do Porto vão sair cerca de 93 toneladas, em cada mês, mas, em abril, a situação pode complicar-se.

Em abril podemos entrar em rotura de alguns produtos, nomeadamente massa, conservas e leguminosas”, adianta Inês Pinto Cardoso.


Já em fevereiro, o Banco Alimentar do Porto vai racionar a massa e em vez de dar dois quilos por família vai atribuir apenas um quilo.

Sem a habitual recolha de bens nos supermercados, Inês Pinto Cardoso sublinha que se apresentam novos desafios ao Banco Alimentar do Porto, para angariar produtos e poder continuar a ajudar.

“Nós, nas campanhas, fazemos no Porto mais de 750 toneladas por ano. Deixamos de estar em supermercado, são 750 toneladas a menos que estão a entrar e, por isso, tivemos que nos reinventar e criar iniciativas novas para a recolha de alimentos”, explica a responsável, indicando que estão a “ir a todas as entidades da sociedade civil, empresas, escolas, universidades” e a desenvolver várias iniciativas, por exemplo, nos centros religiosos do distrito ou no centro judaico.

“Quando pedem ajuda alimentar já deixaram muita coisa para trás”

O número de pedidos de ajuda no Banco Alimentar de Braga também está a aumentar.

A responsável, Pilar Barbosa, diz à Renascença que tem "notado muito, através da rede de urgência alimentar”, com os “pedidos estão sempre a surgir”.

Através da rede de emergência alimentar já nos chegaram 4. 484 pedidos, pedidos de urgência, porque as pessoas, de repente ficaram sem qualquer rendimento e estamos a falar, neste caso, de 1. 755 crianças”, adianta a responsável do Banco Alimentar de Braga, acrescentando que a instituição está a apoiar “cerca de 39 mil pessoas, através de 308 instituições”.


À semelhança do que acontece no distrito do Porto, também em Braga as pessoas que estão a recorrer ao Banco Alimentar são pessoas que perderam rendimentos, em consequência da pandemia.

São pessoas que estão a pedir apoio pela primeira vez, que tinham uma vida mais ou menos estável”, afirma Pilar Barbosa, indicando que “a restauração levou muita gente para este caminho, assim como cabeleireiros ou pessoas ligadas às economias paralelas”.

“Em Braga, temos uma agravante que é uma grande comunidade brasileira, que ainda estava numa situação precária de trabalho e que está a passar por dificuldades”, acrescenta a responsável.

No entender de Pilar Barbosa, o atual estado de emergência, com o encerramento das escolas, veio agravar a já difícil situação de muitas famílias.

“É mais gente a precisar de se alimentar em casa, de refeições quentes. Isto complicou bastante e famílias que tinham uma situação estável e que não tem capacidade de fazer face às despesas do mês, sem receberem rendimento desse mês”, explica.

A responsável do Banco Alimentar de Braga sublinha que “é muito preocupante, porque, quando as famílias pedem ajuda alimentar, já deixaram muita coisa para trás”.

Para continuar a ajudar, o Banco Alimentar de Braga vai continuar a contar com o apoio de doadores. Pilar Barbosa destaca que através da rede de emergência alimentar “conseguiu-se unir todas as boas vontades, muitos dos doadores a quererem colaborar”.

“A sociedade civil foi muito importante, as juntas de freguesias e todas as instituições que deram o apoio na emergência. Sem elas não era possível”, conclui.