A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) denunciou a “desigualdade” na repartição de sacrifícios em Portugal e alertou para o fosso crescente entre os salários mais baixos e os mais altos, nas grandes empresas.
“Eu recordo-me de ter ouvido dizer uma vez que nos anos 50 um conhecido industrial italiano, Olivetti, fazia questão de na sua empresa a proporção não ser superior 1 a 10, entre os mais baixos e os mais altos. Agora já se vai aos 20, 30… E estes salários mais altos têm subido mais do que os salários mais baixos”, diz à Renascença o presidente da CNJP, Pedro Vaz Patto.
Numa nota intitulada “Atenção aos mais pobres”, a Comissão sublinha que “níveis excessivos e crescentes de desigualdade” prejudicam a coesão social e o “sentido de pertença à empresa e à comunidade global”.
“Uma desigualdade na repartição de sacrifícios necessários que prejudique os mais pobres ofende elementares sentimentos de justiça e o princípio da solicitude preferencial pelos mais pobres que deve orientar a acção do Estado”, refere o organismo laical ligado à Conferência Episcopal Portuguesa.
Em Maio, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que o fosso entre as famílias portuguesas com maiores rendimentos e as de mais baixos recursos aumentou entre 2004 e 2014, sendo que a quebra do rendimento médio da população em geral atingiu 16,5% entre 2010 e 2013,
A CNJP considera que, apesar de a redução de salários e pensões ter sido “proporcionalmente mais acentuada nos mais elevados”, a redução de apoios sociais, “precisamente quando eles eram mais necessários, provocou tal efeito”.
O comunicado cita outro estudo relativo à desproporção entre salários dos gestores e trabalhadores, que se acentuou nos últimos anos.
“A pobreza constitui uma ofensa à dignidade humana e, por isso, uma violação dos direitos humanos”, refere a CNJP.
Para o organismo católico, é urgente alertar para a necessidade de “outra atenção aos mais pobres”, também os “desprovidos de projecção mediática e força política e eleitoral”.
“Para tal, não basta a reposição de salários e pensões que continua a beneficiar mais, proporcionalmente, a classe média, nem acreditar ilusoriamente que terminou a necessidade de sacrifícios imposta pela exigência de redução das dívidas pública e privada”, conclui o documento.