"As empresas sofrem da doença que é o aumento do gás"
28-10-2022 - 18:44
 • Isabel Pacheco

Os empresários admitem sérias dificuldades para fazerem face ao aumento do preço da energia e lamentam lentidão no apoio do Estado. Entre os setores mais afetados pela subida do custo do gás e da eletricidade estão os setores têxtil e da cerâmica.

António Faria, proprietário de uma empresa de cerâmica de Barcelos, admite vir a reduzir o número de funcionários para fazer face ao aumento do preço do gás. O empresário barcelense fala de uma situação “incomportável” que a continuar poderá, mesmo, ditar o fim da empresa.

“Neste momento, a perspetiva é reduzir o pessoal e aguentar ou fechar. Não temos outra alternativa”, lamenta António Faria, que garante que a situação é transversal na região.

“Nós subcontratamos outras empresas do setor que nos dizem que vão fechar porque não suportam o aumento do custo do gás”, revela. “Na generalidade, as empresas da região sofrem da mesma doença que é o aumento do gás”, lamenta.

Mesmo com a redução de 70% no consumo energético, a unidade de produção de António Faria viu a conta do gás natural quase a duplicar nos últimos tempos.

“Eu cozia no forno três vezes por dia, inclusive sábados e domingos, e tínhamos um consumo médio entre os quatro e os cinco mil euros de gás por mês. Neste momento, cozemos duas a três vezes por semana e pagamos 8.400 euros por mês”, adianta o empresário que, perante a situação, lamenta a demora na ajuda do Estado.

“Os apoios nunca chegam às empresas”, atira António Faria. “Dizem que as empresas podem ir buscar a diferença de 30% na fatura do gás, mas, na verdade, os apoios ainda não chegaram”.

Já na empresa de bordados de Rui Martins o que mais pesa é a conta da eletricidade. “A nossa média de consumo energético estava na casa dos 1.800 euros, mas chegamos a ter faturas de 5.600 euros”, revela à Renascença o empresário têxtil.

Para fazer face a aumento do preço da energia, a fábrica de Barcelos foi obrigada a reorganizar-se. A começar “pelo fim do turno da noite”, explica Rui Martins.

“A rentabilidade versus o consumo de energia teve de ser equacionado e acabamos por encerrar o turno da noite para diminuir a fatura energética”, conta o empresário, que garante que a gestão da energia consumida passou a ser “feita ao centímetro”.

“Desde desligar o computador ao final do dia e garantir que, mesmo que por um período curto, todas as máquinas , pequenas ou grandes, são desligadas”, exemplifica Rui Martins, que revela que a empresa passou a ter uma “pessoa dedicada a fazer esse chek-up todos os dias”.

O Governo anunciou, no início do mês, novas medidas para mitigar o impacto da subida do gás e da eletricidade. Entre as medidas, previstas no âmbito da proposta de Orçamento do Estado para 2023, está a majoração, em sede do IRC, dos custos da energia das empresas e a injeção de 3 mil milhões de euros nos sistemas de eletricidade e gás para limitar os preços.