Cerca de 150 organizações da Igreja Católica, localizadas em Roma, acolheram mais de tês mil judeus perseguidos pelo nazismo e pelo fascismo durante os últimos anos da II Guerra Mundial.
O documento que identifica as pessoas que foram protegidas da perseguição nazi foi encontrada nos arquivos do Pontifício Instituto Bíblico e, após ter sido analisado com a Comunidade Judaica de Roma e o Instituto Internacional de Investigação sobre o Holocausto de Yad Vashem, foi apresentado esta quinta-feira durante o seminário “Resgatados. Judeus escondidos nos institutos religiosos de Roma (1943-1944)”, que se realizou no Museu da Shoah, em Roma.
“A lista das congregações religiosas que acolheram (100 congregações femininas e 55 congregações masculinas), juntamente com os respetivos números de pessoas que refugiaram, já tinha sido publicada pelo historiador Renzo De Felice, em 1961, mas a documentação completa foi considerada perdida. As listas agora encontradas referem-se a mais de 4.300 pessoas, das quais 3.600 estão identificadas pelo nome”, indica um comunicado enviado esta quinta-feira à Agência ECCLESIA.
De acordo com o estudo, que comparou o documento aos arquivos da Comunidade Judaica de Roma, “conclui-se que cerca de 3200 eram judeus” e existem dados sobre os locais onde foram acolhidos e, nalguns casos, também a residência antes da perseguição.
“A documentação aumenta assim significativamente a informação sobre a história do resgate de judeus no contexto das instituições religiosas de Roma”, acrescenta o comunicado de imprensa, indicando que, “por razões de privacidade, o acesso ao documento é atualmente restrito”.
Os arquivos agora encontrados foram compilados pelo ecónomo do Pontifício Instituto Bíblico desde 1930, o padre jesuíta italiano Gozzolino Birolo. O trabalho foi realizado nos dois últimos anos da sua vida, entre junho de 1944 e a primavera de 1945, “imediatamente após a libertação de Roma”.
Nessa ocasião, era reitor do Pontifício Instituto Bíblico o padre jesuíta Augustin Bea, criado cardeal em 1959 e empenhado no diálogo católico-judaico, nomeadamente no documento Nostra Aetate do Concílio Vaticano II.
Os historiadores envolvidos no estudo dos novos documentos são Claudio Procaccia, diretor do Departamento Cultural da Comunidade Judaica de Roma, Grazia Loparco, da Pontifícia Faculdade de Educação Auxilium, Paul Oberholzer, da Universidade Gregoriana, e Iael Nidam-Orvieto, diretor do Instituto Internacional de Investigação sobre o Holocausto de Yad Vashem.
Dominik Markl, do Pontifício Instituto Bíblico e da Universidade de Innsbruck, coordenou o estudo, juntamente com o atual reitor, o jesuíta canadiano Michael Kolarcik.
“Roma foi ocupada pelos nazis durante nove meses, a partir de 10 de setembro de 1943, até à libertação da cidade pelas forças aliadas, em 4 de junho de 1944. Durante esse período, a perseguição dos judeus levou, entre outras coisas, à deportação e ao assassinato de quase 2 mil pessoas, incluindo centenas de crianças e adolescentes, de uma comunidade de aproximadamente 10 mil a 15 mil”, acrescenta o comunicado.