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Mais transmissíveis, menos severas ou mais resistentes a anticorpos. Nos últimos meses muito se tem descoberto sobre as diferentes variantes do novo coronavírus que circulam por todo o mundo e, recentemente, a mutação L452R “surpreendeu” os responsáveis pela avaliação da diversidade genética do novo coronavírus em Portugal.
Os investigadores portugueses estão atentos às mutações do SARS-CoV-2 e têm feito um esforço acrescido para acompanhar a diversidade genética do vírus, que já infectou mais de 774 mil portugueses.
Quase um ano depois do início da pandemia no país, quantas variantes circulam em Portugal e o que se sabe de cada uma delas? O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), em colaboração com o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e o Institute of Biomedicine - iBiMED (Universidade de Aveiro), revela algumas respostas.
Quais as principais variantes a circular em Portugal?
De acordo com a última atualização da diversidade genética do novo coronavírus, o INSA destaca oito variantes genéticas identificadas na amostragem nacional.
A primeira, inicialmente detetada em Espanha, é responsável por mais de metade dos casos em Portugal e terá sido a grande impulsionadora da segunda vaga no país.
A segunda trata-se da já conhecida variante do Reino Unido, cuja elevada prevalência em Portugal ditou o encerramento das escolas, no final de janeiro.
Seguem-se as variantes da África do Sul, com dois casos detetados em Portugal, e uma outra recentemente associada a casos de reinfecção no Brasil, que apresenta uma mutação que pode potenciar a resistência a anticorpos neutralizantes. Ambos os casos estão associados “a alguma fuga ao nosso sistema imunitário”, para além do aumento da transmissibilidade.
Há, ainda, referência à mutação N439Y, “associada à falha na deteção deste gene [S] em alguns testes de RT-PCR”. Também uma variante, associada a uma maior frequência na Bélgica e Holanda, já foi identificada em 29 casos em Portugal.
A S477N representa 13,2% dos casos detetados no país e apresenta uma considerável disseminação internacional.
Por fim, surge uma nova variante que surpreendeu os investigadores do INSA, que se pode revelar preocupante no contexto da evolução da pandemia em Portugal.
Qual a prevalência da variante do Reino Unido?
Depois de um anúncio alarmante de que a variante britânica crescia a uma taxa de 90% por semana, o que terá levado o Governo a reforçar as medidas de controlo da pandemia, os dados são agora mais animadores.
De acordo com o investigador João Paulo Gomes, a variante, associada a uma maior transmissibilidade, reduziu em mais de um terço a prevalência no país, contrariando as previsões iniciais do INSA.
“Tivemos semanas onde a variante do Reino Unido crescia a uma proporção de 90%. Há três semanas passou para 50% a 60% e a taxa de crescimento agora, a nível nacional, ronda os 19%”, revelou o especialista na última reunião do Infarmed.
Também o cenário em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) parece estar a melhorar. João Paulo Gomes, adianta que “apesar de na região de LVT a variante do Reino Unido ter uma prevalência superior em relação à maior parte das outras regiões do país, na realidade a evolução da taxa de crescimento tem sido muito favorável”.
“Posso assegurar-vos que nos vários concelhos de LVT, onde a prevalência da variante do Reino Unido é muitíssimo elevada, na ordem dos 95% a 60%, a evolução de semana a semana passou também dos 90% para cerca de 10% a 15%”, defende.
Os primeiros casos da variante britânica terão chegado a Portugal, segundo as estimativas dos investigadores, durante o mês de dezembro.
Os casos associados a esta variante “apresentam, normalmente, uma carga viral cerca de 20 vezes inferior aos casos de Covid-19 causados pelas restantes variantes”.
Que nova variante está a preocupar os investigadores?
Apresenta uma mutação conhecida por L452R e está na mira dos investigadores do INSA.
Com semelhanças a uma outra variante inicialmente identificada na Califórnia, esta nova estirpe “surpreendeu” os responsáveis pela avaliação da diversidade genética do novo coronavírus em Portugal.
“É uma mutação que está, não só, no domínio de ligação das nossas células, potenciando eventualmente uma maior transmissão, mas também está associada - dados experimentais apontam para isso - à falha de ligação dos nossos anticorpos. E daí esta preocupação acrescida”, explica João Paulo Gomes.
E esta preocupação advém, sobretudo, pelo facto de em novembro ter sido detetada em apenas três casos, de três concelhos, o que correspondia 0,7% de prevalência, e agora representar 6,8% de todos os casos de Covid-19 em Portugal, espalhados por 32 concelhos.
“Estaremos atentos para perceber se ela vai continuar a disseminar-se, de uma forma que nós não gostaríamos de observar. Vamos fazer essa monitorização periódica e vamos reforçar a vigilância”, adiantou.