O embaixador da Ucrânia no Vaticano criticou esta quarta-feira o Papa Francisco por ter feito referência a Daria Dugina, filha de um proeminente ultranacionalista russo, que morreu na explosão de um carro armadilhado no sábado nos arredores de Moscovo, como mais uma vítima inocente da guerra na Ucrânia.
É altamente incomum embaixadores no Vaticano criticarem publicamente o Papa, que proferiu as declarações esta manhã, dia em que se marca meio ano da invasão russa da Ucrânia.
"São os inocentes que pagam pela guerra", disse Francisco esta manhã na audiência geral, referindo na mesma frase "aquela pobre rapariga atirada ao ar por uma bomba sob o assento do carro em Moscovo".
A Rússia atribui responsabilidades pelo ataque à Ucrânia, uma acusação que Kiev rejeita.
Alexander Dugin, pai de Daria, defende há muito a reunificação de todos os países e territórios russófonos num novo império russo que incluiria a Ucrânia, sendo tido como o "arquiteto" da atual guerra no país vizinho.
Daria Dugina apoiava os ideais do pai e sempre expressou publicamente o seu apoio às ações da Rússia na Ucrânia em intervenções na televisão estatal.
Num tweet, Andrii Yurash, embaixador da Ucrânia no Vaticano, disse que as palavras do Papa são "dececionantes".
"Como é possível mecionar uma dos ideólogos do imperalismo [russo] como vítima inocente? Ela foi morta pelos russos", escreveu Yuras naquela rede social, ecoando acusações já feitas por outros oficiais ucranianos.
No seu discurso, o Papa Francisco classificou a guerra em curso como uma "loucura" que continua a matar crianças ucranianas e russas e disse que "ser órfão não conhece nacionalidades".
No mesmo tweet, Yurash declarou que "não se pode falar de forma igual do agressor e da vítima, do violador e do violado".
O Vaticano não reagiu imediatamente aos comentários do embaixador da Ucrânia.
Numa outra parte do seu discurso, Francisco pediu "passos concretos" para pôr fim à guerra e para se evitar um desastre nuclear na central de Zaporíjia, que continua a ser palco de intensos ataques e confrontos.
A Rússia e a Ucrânia têm trocado acusações sobre os responsáveis pelos ataques à central nuclear, a maior da Europa, que foi tomada por forças pró-Moscovo pouco depois da invasão russa, a 24 de fevereiro. A ONU insiste que a área tem de ser desmilitarizada.
Numa entrevista com a Reuters no mês passado, Francisco manifestou vontade de visitar Kiev mas também Moscovo, preferencialmente até antes de se deslocar à capital ucraniana, para promover a paz.