Reclusos constroem confessionários da JMJ. "Dá-me força saber que estamos a fazer isto e que o Papa vai ver"
07-04-2023 - 09:05
 • Isabel Pacheco

Na oficina de carpintaria do estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, oito reclusos dedicam-se à construção de 50 confessionários que vão servir, em agosto, a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.

Francisco Lopes é um dos reclusos do estabelecimento de Paços de Ferreira que integra a equipa dedicada à construção dos confessionários de madeira para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). É ele quem explica à Renascença os detalhes do que já foi feito e o que falta para terminar a obra.

“No fundo, falta pintar de vermelho, amarelo e branco que são as cores da JMJ”, resume Francisco. “O que praticamente falta são uns acabamentos e, depois, passa para a pintura”, adianta.

Para o filho de marceneiro, este é um trabalho sem grandes segredos, embora, tenha dado “mais trabalho no início”, reconheceu o recluso.

“Os engenheiros têm uma certa lógica para fazer as coisas, mas nós que sabemos da arte percebemos que nem sempre é assim. Tivemos de corrigir algumas coisas, mas, agora, já está tudo em ordem”, garantiu.

O trabalho segue a bom ritmo. Os 50 confessionários estarão prontos entre junho e julho. Até lá, são meses de dedicação a uma obra que aproxima os reclusos de Deus e do Papa Francisco.

“Quando estou na cela sozinho começo a pensar mais em Deus, sobretudo, agora depois das notícias sobre a saúde do Papa”, admite Francisco Lopes.

“Dá-me força saber que estamos a fazer isto e que o Papa também vai ver e, certamente, vai gostar”, afirma o colaborador da JMJ 2023.

Para José Costa, outro dos reclusos envolvidos na iniciativa, construir os confessionários para o maior encontro internacional de jovens com o Papa traz um “conforto especial”.

“Faço os trabalhos com gosto, mas este dá-me mais gosto”, reconhece o recluso, que não esconde a satisfação por saber que a obra final “vai ser vista por milhares de pessoas”.

“Estamos cá, mas faz de conta que estamos lá”, disse José.

Já para José Conceição, a principal motivação está na vinda ao nosso país do Papa Francisco e a esperança de uma eventual amnistia, à semelhança da visita do Papa João Paulo II em 1991.

“É preciso agora que o Papa Francisco se lembre também de nós para dar um perdão à gente”, atirou Conceição, confiante que, “mesmo a nível político em cada país, o Papa tem sempre uma palavra a dizer”.

Resultado de uma encomenda da Fundação JMJ Lisboa 2023, a participação dos reclusos na construção dos confessionários é “importante” para mostrar o que de “positivo se faz dentro da prisão”, defende o diretor do estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, José Silveira.

“Coisas positivas fazem-se todos os dias e essas não passam lá para fora”, lamenta o também psicólogo de formação. “É bom que este tipo de projetos venha cá para perceber que se faz coisas boas e que quem está cá dentro também merece o reconhecimento pelo seu mérito.”

Acima de tudo, sublinha o responsável, são iniciativas com “impacto” na vida dos reclusos e que “marcam, mesmo, a quem já saiu em liberdade”.

“O senhor que estava responsável inicialmente pelo projeto foi colocado em liberdade condicional, mas antes assumiu com os representantes da Fundação da JMJ o compromisso que iria às Jornadas Mundiais da Juventude a Lisboa para ver o resultado da colaboração in loco”, recorda. “Este projeto toca-os”, garante José Silveira.

Cumprindo com uma das tradições da JMJ, a Fundação responsável pela organização do evento mundial em Lisboa assinou em fevereiro um protocolo com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais para a construção de 150 confessionários. Um trabalho repartido por reclusos dos estabelecimentos prisionais de Paços de Ferreira, Coimbra e Porto.