A coordenadora no Centro de Investigação e Intervenção na Leitura do Instituto Politécnico do Porto, Ana Sucena, diz que a sucessão de greves nas escolas "afeta as taxas de aprendizagem".
"Não estou certa de que as paragens façam aumentar taxas de retenção, mas estou certa de que afeta as aprendizagens", diz a também piscóloga clínica em entrevista à Renascença.
Ana Sucena lembra que este tempo é ainda de recuperação dos efeitos negativos causados pelas paragens da pandemia. "Nós ainda estamos no plano de recuperação, um plano de recuperação de aprendizagens", lembra, numa alusão ao Plano 21|23 Escola, que está em vigor até ao final deste ano.
"O desejável seria termos agora um tempo de estabilidade que permitisse ir compensando aquilo que foram os efeitos negativos que ainda se fazem sentir. Não haja dúvidas sobre o impacto que o encerramento da escola teve com as aulas em regime virtual. O impacto foi negativo para todos os alunos, mas muito mais negativo para os alunos de mais tenra idade", sublinha a especialista.
"Estávamos numa trajetória de correção de compensação e essa trajetória não terminou. Já é difícil recuperar aquilo que se perdeu. Quanto mais o tempo passa, mais complexo é", reforça.
No conjunto de repercussões destas paragens, "importa distinguir dois aspetos: o aspeto de desenvolvimento social ou emocional e o das aprendizagens"
“Quando falamos numa criança que fica com aprendizagens por consolidar, falamos de uma fragilidade que se vai repercutir em dificuldades emocionais. Isto é, nós não gostamos de falhar e as crianças não apreciam nada. E, aos poucos, isto vai criando ilusão. Eu acho que estes aspetos têm sido muito arredados da discussão no que respeita ao encerramento das escolas".
"Falhar em termos de aprendizagens também tem consequências em termos emocionais”, reforça a coordenadora no Centro de Investigação e Intervenção na Leitura do Politécnico do Porto.