Como é que recebe esta nomeação de D. Rui Valério para patriarca de Lisboa?
A propósito da nomeação do senhor D. Valério, gostava de dizer basicamente três coisas. A primeira é agradecer ao Papa Francisco, por ele ter compreendido a necessidade de não atrasar a substituição em Lisboa. E a razão é simples: a diocese de Lisboa é uma grande diocese, como todos sabemos, e tem habitualmente quatro bispos ao seu serviço. Em setembro do ano passado, éramos quatro. O que é que aconteceu? Primeiro, o senhor D. Américo ficou praticamente absorvido pela preparação da Jornada Mundial da Juventude. A seguir, morre o senhor D. Daniel Henriques. Depois, sucederam-se os 75 anos completos do D. Joaquim Mendes e os meus. Lisboa corria o risco de ficar sem equipa episcopal, o que era particularmente inviável, porque não só estava em curso a preparação da jornada, como depois e agora é preciso aproveitar tudo aquilo que a jornada levantou. Foi isto que expus ao Santo Padre e que promoveu a diligência habitual, através da nunciatura.
Que agora conduziu à nomeação de D. Rui Valério…
Sim, que pode propor ao Papa a sua nova equipa episcopal. Entretanto, o senhor D. Joaquim e D. Américo ficarão o tempo que ficarem - possivelmente, não será muito. Graças a Deus, o Santo Padre compreendeu muito bem esta argumentação, que creio que também se impõe por si própria.
A segunda coisa que quero dizer é em relação ao senhor D. Rui Valério e agradecer muito a sua disponibilidade. Não é fácil, não seria fácil para ninguém aceitar esta nomeação, porque, efetivamente, Lisboa é um grande encargo, como outras também são. O senhor D. Rui, com a disponibilidade que o caracteriza, aceitou o convite que o Santo Padre lhe fez e por isso vai ser o 18º Patriarca de Lisboa. Ainda está na casa dos 50, cheio de vigor, disponibilidade para trabalhar. Tem a vantagem de conhecer a diocese. É um missionário monfortino, que trabalhou aqui em Lisboa como coadjutor, como pároco, como vigário da vigararia de Loures, depois como membro do Conselho Presbiteral. Foi membro ativo, também, do nosso sínodo diocesano 2016. Tem todas as características que lhe dão uma boa base para começar a trabalhar. Além do mais, é um homem de Deus e é um homem de Deus para o povo. Tem uma forte espiritualidade, com aquela marca mariana que é própria dos monfortinos, e depois do povo: sempre foi propenso e ativo na ligação às comunidades que serviu, às pessoas que encontra. Também fez um excelente trabalho nas forças armadas e de segurança, como bispo dessa diocese. Tem todas as qualidades para ser um grande Patriarca de Lisboa, um homem amigo de Deus e do povo. É isso que esperamos dele e por isso rezamos.
Falou em três pontos...
Quero dar uma palavra de muito agradecimento e reconhecimento a esta magnífica diocese: bispos, padres, diáconos, leigos, leigas, religiosos, religiosas que trabalharam comigo. Foram e são uma gente fantástica que agora continuará esse grande trabalho apostólico com o senhor D. Rui Valério.
O Papa Francisco escolheu um Patriarca que é um homem do terreno, que esteve muito tempo na paróquia de Santo Adrião, com uma realidade social exigente...
Creio que isso foi muito importante. Não sei ao certo quantos nomes apareceram nesse processo da nunciatura, mas não tenho dúvidas de que, olhando para o perfil pastoral do senhor D. Rui Valério, o Papa achou que era um bispo como ele quer que os bispos sejam: homens do povo, homens do terreno, como ele diz, pastores com cheiro a ovelha, muito próximos daqueles que servem e todas essas características efetivamente caem muito bem no senhor D. Rui Valério. Não me admira nada que o Papa e os seus colaboradores episcopais tenham verificado nele essas qualidades.
A Jornada Mundial da Juventude que acabou há poucos dias foi um momento marcante para a Igreja em Portugal. Que balanço faz?
Muito positivo. Quero, mais uma vez, agradecer a todos aqueles que, com o senhor D. Américo, colaboraram na sua efetivação. E foram tantos... Portanto, isso levantou uma onda de entusiasmo e, mais do que isso, redobrou a vontade evangélica de ser Cristo no mundo. E foi impressionante verificar, duranjornada, cote a mo para aquela multidão juvenil isto era mesmo assim.
Eu não posso esquecer como, de repente, e sem que ninguém desse ordem para isso, se fazia silêncio diante do Santíssimo Sacramento e nas celebrações, e isso só acontece com uma multidão quando ela está já muito motivada e preparada para que as coisas aconteçam desta maneira. Depois, também não esqueço os testemunhos que fui ouvindo, a convicção de tantos jovens portugueses e estrangeiros. Foram todos lisboetas nesta semana e isso mostra que há aqui um enorme potencial de rejuvenescimento da Igreja, que foi isso que a jornada pretendeu evidenciar e promover, e que agora continua. Agora, trata-se, em termos de pastoral normal, da vida habitual da Igreja, de canalizar tudo isto com o mesmo sentido evangélico de presença de Cristo no mundo, como a nossa sociedade tanto precisa. E creio que se deram passos firmes nesse sentido.
Termina agora um período de dez anos à frente do Patriarcado de Lisboa e vai iniciar uma nova fase da sua vida. Como é que olha para este tempo em que foi bispo de Lisboa?
Foi o que eu pude fazer e, sobretudo, o que a graça de Deus e a contribuição de tanta gente me permitiu fazer. Claro que fica sempre muito aquém daquele ideal que nos movimenta, mas foi o possível, pedindo para já desculpa de não ter sido tão bom como podia e devia ter sido. Da minha parte, nunca houve falta de vontade, nem disponibilidade para acertar. E assim é que temos de estar na vida. E foi assim que aconteceu, quer aqui nestes 10 anos, quer nos sete anos que já aqui tinha passado como bispo auxiliar, quer naqueles em que passei na diocese do Porto, da qual guardo também tem boas recordações, quer antes nos meus 20 anos de sacerdócios. É um trabalho magnífico, é um trabalho difícil. Nosso Senhor não nos prometeu outra coisa, mas é [um trabalho] cheio de sentido, sobretudo para o bem das pessoas e para a sua felicidade.