O padre Brian Kolodiejchuk, postulador da causa de canonização de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), disse esta sexta-feira no Vaticano que há uma “grande afinidade” entre o Papa Francisco e religiosa que vai proclamar como santa, este domingo, no Vaticano.
O actual responsável geral pelos Padres Missionários da Caridade falava aos jornalistas na sala de imprensa da Santa Sé, antecipando a celebração de canonização de uma das figuras mais conhecidas da Igreja Católica no século XX.
O sacerdote sublinhou que a futura santa e o Papa Francisco estão ligados em particular pela atenção “às periferias”, aos “mais pobres dos pobres” e a quem sofre com a “pobreza interior”.
“Há certamente uma grande afinidade entre o Papa Francisco e a Madre Teresa: as periferias, procurar, ir em busca dos mais pobres dos pobres, ir às periferias, mesmo a experiência de escuridão, estar identificado, partilhar aquilo a que Madre Teresa chamava a maior pobreza do mundo de hoje: não ser amado, querido, cuidado”, referiu, em conferência de imprensa.
Para o responsável pela condução do processo de canonização da religiosa, há uma coincidência na preocupação com as “periferias existenciais” e a necessidade de não ficar “indiferente” à presença dos pobres, respondendo com “compaixão”, “misericórdia”.
Francisco tem citado por diversas vezes a figura da Madre Teresa, que "no silêncio soube escutar e fez muito"; durante uma das suas homilias matinais, na casa de Santa Marta, em Novembro de 2015, contrapôs os traficantes de armas aos “trabalhadores da paz”, que dão a sua vida para ajudar uma pessoa que seja, como Teresa de Calcutá.
Já em Setembro de 2015, recordando o aniversário da morte da futura santa, Francisco observou que o exemplo de vida desta religiosa mostra que “a misericórdia de Deus é reconhecida” nas obras de cada um.
O Papa Francisco assinou ainda o prefácio do mais recente livro dedicado à Madre Teresa de Calcutá, com textos inéditos da futura santa, convidando os jovens a aprender com ela a importância de estar nas “periferias”. “[Caridade] é tornarmo-nos próximos das periferias dos homens e das mulheres que encontramos todos os dias e sentir compaixão pelos últimos no corpo e no espírito”, escreve.
No livro, "Amemos Quem Não É Amado", o Papa recorda a importância da oração na vida da religiosa, cujo trabalho foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz. Francisco espera que esta figura ajude a “despertar consciências” para o “drama da pobreza” e leve os católicos a “entrar no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”.
No início do prefácio, o Papa lembra que “a Igreja não é uma ONG”, algo que era dito pela própria Madre Teresa. “As ONG trabalham para projectos e nós trabalhamos para Alguém. A Igreja trabalha para Cristo e para os pobres nos quais Cristo vive, nos estende a mão, invoca ajuda, pede o nosso olhar misericordioso, a nossa ternura”, precisa.
Francisco deixa uma palavra de estímulo aos jovens, que convida a ser “construtores de ponte, para eliminar a lógica das divisões, da recusa, do medo dos outros”, colocando-se “ao serviço dos pobres”.
A futura santa, vencedora do prémio Nobel da Paz (17 de Outubro de 1979), faleceu em 1997 e foi beatificada por João Paulo II em 2003.