"A Venezuela já é a Grécia, mas ainda não é a Síria"
18-05-2016 - 14:02
 • Pedro Mesquita

Comunidade portuguesa está cada vez mais apreensiva com a situação. Especialista teme que a situação degenere numa guerra civil.

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Aumenta a pressão, nas ruas, contra a continuidade de Nicolas Maduro. A oposição manifesta-se esta quarta-feira em Caracas, em defesa de um referendo sobre a continuidade do Presidente. É esse o objectivo, mas o partido no poder – em minoria no Parlamento – rejeita a consulta à população.

Com o país a atravessar um momento particularmente difícil, no plano social, económico e político, a comunidade portuguesa está apreensiva. Não será fácil atravessar a tempestade sem se molhar e o silêncio, sobre a tensão social e política do momento, é a melhor defesa.

Para início de conversa, com a Renascença, António (nome fictício) não poderia ser mais claro: "Só se pode falar bem. Falarmos mal da actual situação dá direito a que eles nos pressionem. É por isso que não falamos muito de política".

Ainda assim, questionamos este emigrante sobre o que pensa da manifestação que os opositores de Maduro marcaram. "Esperemos que seja pacífica, que sejam criadas condições para isso", limita-se a dizer.

António abre um pouco mais o jogo quando questionado sobre a realização de um referendo. Não acredita que aconteça, mas é favorável à consulta: "Claro que sim, mas não tenho fé que isso aconteça, que avance o referendo, porque o poder está nas mãos do governo".

Ficam por aqui as considerações políticas, que é difícil sair limpo desta crise: "Não queremos meter-nos nessas coisas porque a política é muito suja". Quanto ao estado da nação, o momento é particularmente complexo: "O país está mal. As lojas não são abastecidas, faltam medicamentos e há muita delinquência".

“O que pode acontecer é uma guerra civil"

Recentemente, a Conselheira das Comunidades Portuguesas na Venezuela classificou a actual situação venezuelana como “muito grave”. Disse, até, que a população “teme uma guerra civil”.

Ouvido pela Renascença, o investigador principal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa André Malamud considera que este não é um receio excessivo.

O especialista considera que esta crise tem tudo para correr mal. "Há duas possibilidades: implosão ou explosão. A implosão já está a ter lugar. A economia venezuelana colapsou. Não se conseguem alimentos nem medicamentos. É certo que, por enquanto, a violência é sobretudo criminal, mas já é a mais alta do mundo, com 27 mil mortos por ano. O que pode vir a acontecer é a violência generalizada", descreve.

"A Venezuela já é a Grécia, mas ainda não é a Síria", diz Andrés Malamu, "O que pode vir a acontecer é uma guerra civil".