O presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro, Pedro Machado, considera que o turismo é um contribuinte líquido para a sustentabilidade não apenas ambiental, mas também económica, social, patrimonial, cultural e para a coesão territorial.
Na sessão de abertura do "7.º Fórum de Turismo Interno – Vê Portugal", nas Caldas Rainha, o responsável sublinhou que é assim que os 100 municípios da Região de Turismo veem esta indústria.
Para que a retoma seja feita com sucesso, elencou cinco pilares, que estiveram no centro da discussão dos diversos painéis.
O primeiro prende-se com a necessidade de restaurar a confiança dos consumidores, o que tem muito a ver com a vacinação e o atingir da imunidade de grupo, “é isso que vai permitir viajar e temos de passar a mensagem que é seguro viajar para Portugal e aqui fazer férias”.
Por outro lado, na opinião do presidente do Turismo do Centro, é preciso consolidar o turismo interno: “não é muito porque somos só 10 milhões de habitantes, mas estão cá o ano todo, podem viajar várias vezes no ano, consumir experiências do litoral ao interior, mas sobretudo, valorizar territórios que antes não estavam na primeira linha das preferências”.
Pedro Machado deu o exemplo da procura que os chamados “territórios de baixa densidade” tiveram o verão passado, em julho e agosto, após a primeira vaga da pandemia.
No entanto defendeu que não é possível pensar apenas em Portugal; há que agregar Espanha, tendo em conta um mercado interno largado. Por isso, Pedro Machado considera que é preciso pensar no futuro das entidades regionais, na forma como cooperam entre si e com as regiões fronteiriças.
Outra prioridade prende-se com a reconquista do mercado internacional, “crítico” nomeadamente para a região Oeste, uma das regiões mais próximas de Lisboa e mais ligadas aos fluxos internacionais. Um bom exemplo, é Fátima. “Por isso, é preciso que as pessoas tenham uma perceção de segurança”.
O quarto pilar tem a ver com o com o apoio às empresas para a fase de retoma que se inicia. E finalmente, na opinião do presidente da ERT Centro, há que aproveitar as “janelas de oportunidade”, com a diversificação dos produtos turísticos.
Turismo não precisa de reformas estruturais, mas de um Plano de aceleração
A Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, considera que se vive um “virar de página, nomeadamente com a integração de Portugal na “lista verde” do Reino Unido, o que é uma oportunidade competitiva para Portugal na captação de turistas estrangeiros.
“Uma boa altura para lançar o Plano de reativação do turismo”, afirmou Rita Marques, frisando que o setor não precisa de reformas estruturais (daí, a não inclusão no Plano de Recuperação e Resiliência, que alguns defenderam). “O que precisamos é de um plano de aceleração para atingir em 2027 as metas definidas na Estratégia (em 2017).
Um Plano que visa a recapitalização das empresas afetadas pela pandemia. Segundo a Secretária de Estado do Turismo, estima-se que as empresas do setor tenham perdido cerca de mil milhões de euros de capitais próprios. Por outro lado, é preciso instigar confiança, o que para a governante pode ser conseguido com iniciativas como o Clean&Safe, em que Portugal foi pioneiro. Ou com programas como o Adaptar 2.0, que vai ser relançado em breve e se dirige aos empresários e trabalhadores do setor.
Mas para Rita Marques, a prioridade é gerar negócio, com um posicionamento competitivo de Portugal no contexto internacional. E uma boa ajuda vem do facto do país, mesmo em ano de pandemia, ter sido considerado “marca europeia de turismo”.
Aproveitando o facto de Portugal ter a presidência da União Europeia e pensando no futuro do setor, lembrou o desafio lançado para que seja aprovada uma Agenda Europeia do Turismo 2030-2050.
O maior esforço foi dedicado à criação do certificado verde digital, a operacionalizar brevemente; e à necessidade de reposição da mobilidade aérea nos países da União Europeia, mas também com países terceiros. Entre eles estão alguns mercados importantes para Portugal (americano, canadiano, brasileiro, asiático) que muito ajudam a combater a sazonalidade, garantem as estadias mais longas de que o país precisa e receitas turísticas mais altas.
Rita Marques terminou a intervenção no Fórum de Turismo Interno com um repto: “Temos uma Estratégia bem estruturada e um Plano que a reforça. Agora, temos todos que a executar para que em breve se atinjam os objetivos de 2027: 27 mil milhões de receita turística e uma onda que não para o setor do turismo”.
Líderes associativos temem que o pior esteja para vir
A contrastar com o otimismo da Secretária de Estado do Turismo, à tarde, os vários representantes das associações do setor lembraram as perdas de atividade e de negócio geradas pela pandemia. “Receio que ainda não tenhamos visto todos os efeitos desta crise na perda de postos de trabalho e encerramento de empresas”, alertou Frederico Costa, vice-presidente do conselho diretivo da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal.
Também Carlos Moura, vice-presidente da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares lembrou que já antes da pandemia havia muitas empresas “menos bem”, mas agora estão quase todas mal. E afirmou esperar que “não se crie a ideia de que se as empresas estão doentes, o melhor é deixá-las cair”. Apontou ainda o dedo ao governo por ser, entre os países da União Europeia, um dos que menos apoios públicos deu às empresas, optando pelas moratórias.
O setor do rent-a-car viveu em 2019 o melhor ano de sempre e logo a seguir, em 2020, o pior de sempre. “Foi um ano dramático”, referiu o presidente da ARAC – Associação dos Industriais de Aluguer de Automóvel, Joaquim Robalo de Almeida. A faturação para veículos de passageiros caiu 64% em relação aos 679 milhões de euros registados em 2019.
“Conseguimos manter os postos de trabalho, graças ao layoff, mas as empresas estão numa situação muito difícil. É necessária uma recuperação rápida do turismo para sobrevivermos”.
António Marques Vidal representa uma atividade que quase desapareceu. O presidente da APECATE – Associação Portuguesa das Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos frisou a falta de recursos humanos: “as empresas (de animação turística) fecharam e quando retomarem a atividade, não têm quadros técnicos especializados. Além disso, neste sub-setor, 40% das empresas não vão voltar a abrir”.
Na área dos eventos, Marques Vidal sublinha que é preciso um planeamento cuidado, definir regras claras porque os eventos precisam de tempo para ser planeados, no mínimo quatro a seis meses.
Por seu turno, Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo deixou algumas notas positivas, referindo que “só 2% das empresas despediu e o layoff funcionou.
O setor conseguiu resistir até à data conseguiu resistir, mas - alerta Costa Ferreira - “estamos em modo de sobrevivência e temo que o pior esteja para vir. Com a retoma vêm os custos acrescidos e a receita não vai acompanhar”. Por isso defende que os apoios do governo às empresas devem manter-se pelo menos até ao fim do ano, mas de preferência, até ao primeiro trimestre de 2022.
O líder da APAVT deixou ainda uma forte crítica ao Executivo de António Costa - “portámo-nos mal” – porque não resolvemos a questão do Aeroporto de Lisboa.
Promoção tem de se adaptar à mudança de comportamentos dos turistas
Os participantes no painel sobre as Tendências na Promoção e Estruturação Turística, quase todos estrangeiros, deixaram uma mensagem clara: as pessoas estão desejosas de viajar, mas a pandemia alterou os hábitos. Procuram novos produtos e novas experiências. A promoção tem de se adaptar e encontrar os canais e as mensagens mais apropriadas para fazer chegar a cada tipo de turista.
E lembraram que as tendências apontam para uma maior procura de destinos mais próximos, de natureza, com segurança, com sustentáveis do ponto de vista ambiental e social, que promovam a diversidade, a inclusão e a autenticidade. “Os que seguem essas tendências já estão esgotados para os próximos meses”, referiu uma das participantes internacionais.