Bernie Sanders. Um “socialista” a caminho da Casa Branca?
09-02-2016 - 09:30
 • Carlos Calaveiras

Há um candidato, do lado democrata, a surpreender (quase) toda a gente nos Estados Unidos. Tem 74 anos e, com o apoio dos jovens, sonha com a “cadeira do poder”. Saiba o que pensa Bernard Sanders.

A ex-secretária de Estado Hillary Clinton é a favorita das sondagens e do aparelho do Partido Democrata, mas há um nome a surpreender tudo e todos: Bernie Sanders, que conseguiu um “empate virtual” com Hillary (49,8 contra 49,6% de Sanders) no Iowa – a primeira das 50 corridas primárias – e lidera destacado as intenções de voto em New Hampshire. Na terça-feira, este Estado escolhe quais dos pré-candidatos democratas e republicanos prefere ver como candidatos à presidência.

Bernard Sanders tem 74 anos e é um membro recente do Partido Democrata, apesar de andar na vida política desde 1971. A primeira luta foi contra a guerra do Vietname no Partido da União pela Liberdade.

Antes de ser eleito para o Senado, “Bernie” Sanders representou, durante 16 anos, o estado do Vermont na Câmara dos Representantes e também foi presidente da Câmara de Burlington, a maior cidade do Estado.

Com propostas comumente ligadas à esquerda, o candidato democrata, descendente de pais polacos, parece seguir o exemplo de Jeremy Corbyn no Reino Unido, mas também do Syriza, na Grécia, ou do Podemos, em Espanha, e tem a sua principal força nos jovens. O exemplo do Iowa é paradigmático daquilo que parece passar-se em todo o país: Bernie conseguiu 86% dos votos democratas na faixa etária 17-24, 81% na faixa 25-29 e 65% na faixa 30-39 anos.

O actual senador dos Estados Unidos pelo Vermont é, em alguns sectores, acusado de ser “socialista”. Sanders não se incomoda com isso: defende-se com a “escola” escandinava da social-democracia, seguindo em países como a Dinamarca, a Noruega e a Suécia.

Saiba o que pensa Bernie Sanders sobre os principais temas de campanha.

SOCIAL PRIMEIRO

– É o tema central da sua campanha: a luta contra as desigualdades nos Estados Unidos. “Devemos criar uma economia que funcione para todos, não apenas para os muito ricos", “esta grande nação pertence ao povo e não a uma mão cheia de bilionários”, disse já em várias ocasiões. Por isso, quer taxar as maiores fortunas (incluindo gestores de “hedge funds”, especuladores em Wall Street e grandes empresários) e não tem papas na língua

– Vê no “Obamacare” um passo positivo, mas defende um sistema de saúde universal (“É um escândalo que ainda haja 29 milhões de norte-americanos que ainda não tenham seguro de saúde. Isto tem de acabar”).

– Considera que o ensino superior deve ser gratuito. “A universidade é o novo ensino médio", escreveu Sanders no “Washington Post”.

– Ao contrário dos Republicanos, quer expandir a Segurança Social

MAIS EMPREGO, MAIORES SALÁRIOS

– Quer acabar com as doações das grandes empresas privadas aos partidos e ou candidatos.

– Defende o aumento do salário mínimo dos actuais 7,25 dólares (6,5 euros) para os 15 dólares (13,5) por hora. Objectivo: que ninguém viva na pobreza.

– Quer criar emprego (13 milhões de novos postos de trabalho em cinco anos) com a ajuda de um grande programa de investimento público em estradas, pontes, ferrovia, aeroportos, etc..

– Defende o fim de todos os tratados de livre-comércio e pretende obrigar as empresas a instalarem-se nos Estados Unidos (em vez de apostarem na deslocalização para latitudes mais baratas).

AMBIENTE

– No plano ambiental quer banir a energia nuclear, taxar as emissões de carbono, cortar subsídios aos combustíveis fósseis e investir em tecnologias para uma energia limpa.

– "As mudanças climáticas são reais e causadas por actividade humana. O debate acabou", escreveu Bernie Sanders depois de a Agência de Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA ter confirmado que 2015 foi o ano mais quente alguma vez já registado.

CONTRA TROPAS NA SÍRIA OU NO IRAQUE

– Sanders está contra o envio de forças armadas para a Síria e o Iraque para combater o Estado Islâmico, como já tinha sido contra a invasão do Iraque ("A pior estupidez da política externa na história do país"). Apoiou apenas a ofensiva no Afeganistão que tinha como objectivo capturar Osama bin Laden, o ideólogo do 11 de Setembro.

– O autoproclamado Estado Islâmico “é uma organização brutal e perigosa e tem de ser derrotado. Mas não é só um problema norte-americano, é uma crise internacional”.

PENA DE MORTE, ABORTO E ARMAS

– É contra a pena de morte. “Está na altura de os Estados Unidos se juntarem à maioria dos países industrializados do Ocidente e dizerem ‘não’ à pena de morte.”

– Considera que a posse de armas é um "estilo de vida que não deve ser condenado". Apesar disso, defende que se investiguem os antecedentes de quem quiser comprar armas.

– Defende os direitos dos homossexuais, é pró-escolha das mulheres na questão do aborto.

RACISMO E MIGRANTES

– Concorda que a alta taxa de desemprego e de detenção entre jovens afro-americanos é uma prova de que ainda existe racismo nos Estados Unidos. Defende a reforma da Justiça criminal como saída para o problema.

– Sobre a questão dos migrantes e refugiados, Bernie Sanders considera que “os Estados Unidos, a Europa e países como a Arábia Saudita, por exemplo, devem actuar nesta crise humanitária. As pessoas estão a deixar e o Iraque e a Síria apenas com a roupa no corpo. O mundo tem de responder e os Estados Unidos devem fazer parte da resposta.”