O cenário de não continuar a ajudar os sem-abrigo não está em cima da mesa, mas o Centro de Apoio aos Sem-abrigo do Porto diz que a instituição tem vindo a adaptar-se à nova realidade.
O Centro decidiu fornecer a alimentação através de uma espécie de serviço "take away".
A coordenadora do Centro de Apoio, Natália Coutinho, revela que a distribuição de refeições vai ter também em consideração a redução do número de voluntários. As equipas de rua viram-se reduzidas de forma substancial, mas continuam a trabalhar, tendo reforçado as medidas de prevenção.
De acordo com Natália Coutinho “a distribuição em sacos, em take away está pensada para que haja uma força de voluntários em local seguro” e só depois é feita a distribuição para a rua por um número muito reduzido de voluntários” para que “não haja um contacto tão assíduo com público que é considerado de risco".
O Centro de Apoio aos sem-abrigo do Porto presta apoio através do "restaurante solidário" que funciona no antigo Hospital Joaquim Urbano e que serve mais de 150 refeições diárias e mantém três saídas noturnas por semana, em dois locais distintos da cidade. Na zona do Bom Sucesso - perto da Rotunda da Boavista - são realizadas duas saídas por semana que, de acordo com Natália Coutinho, apoiam cerca de meia centena de pessoas. Na Avenida dos Aliados, a equipa do Centro tem uma saída semanal, mas o universo de ajuda é superior e aproxima-se da centena.
Confrontado com mais pedidos diários de ajuda, a Associação de Albergues Noturnos do Porto diz que, nesta altura, tem a sua lotação esgotada.
Ainda assim, Miguel Neves garante que a Associação “está a tentar corresponder às múltiplas situações”. O responsável pelos Albergues Noturnos do Porto diz que “os novos pedidos de ajuda surgem das pessoas que estão a perder o apoio alimentar que algumas equipas de voluntariado ofereciam na rua e que estão a reduzir o número saídas”. Neste momento, com lotação esgotada, a instituição está “com 97 pessoas em acolhimento noturno” e “com cerca de 70 pessoas em serviço de apoio alimentar".
Preocupado com a possibilidade de não ter capacidade de resposta para todas as solicitações, Miguel Neves alerta para a necessidade de as “autoridades encontrarem alternativas para que aqueles que não têm casa não sejam abandonados". E, num cenário em que venha a ser decretado o “Estado de Emergência”, o responsável da Associação de Albergues lembra que “há muitas pessoas que não vão poder cumprir a indicação para ficarem em casa porque simplesmente, não têm casa”. Por isso, Miguel Neves defende que “tem que haver capacidade das entidades para encontrar alternativas para que as pessoas mais carenciadas possam ter uma oportunidade para ultrapassar com dignidade e de forma segura esta crise humanitária”.
Misericórdias de Lisboa e Porto mantêm apoio
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa afirma-se preparada para a possibilidade do cenário de declaração do Estado de Emergência. Sérgio Cintra, Administrador da Acão Social da Misericórdia de Lisboa diz que a solução passa pelo "reforço das medidas de autoproteção":
Sérgio Cintra admite que "a situação poderá alterar-se” mas assegura que “a intervenção e o papel da Santa Casa continua a ser absolutamente essencial na prestação do apoio e do auxilio”. O responsável garante que a “única coisa a fazer é o reforço das medidas de autoproteção” e continuar “a prestar o apoio que é isso que todos esperam; a equipa da santa casa, mas também a da rede social de Lisboa".
Desta forma, a Misericórdia de Lisboa mantém todo o tipo de apoio aos sem-abrigo, mas o serviço de refeitório vai reduzir a capacidade de lotação para manter o necessário distanciamento social. "os refeitórios da cidade de lisboa que são da nossa competência continuam, apenas com uma limitação para não ter a permanência das cento e tal pessoas que poderiam simultaneamente estar a fazer as suas refeições. diminuímos para também acautelar uma distância de segurança entre todas"; refere o responsável da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
No Porto, a Santa Casa da Misericórdia mantém os protocolos com diferentes entidades da cidade. O provedor António Tavares assegura que continua a ser dada resposta a cerca de 80 pessoas. "todas as iniciativas quer com a segurança social, quer com a autarquia, mantêm-se operacionais”, garante António Tavares que não prevê “nenhum tipo de descontinuidade”.
Por agora a Santa Casa dá resposta “aos compromissos habituais”, mas o Provedor admite a necessidade de se “encontrarem novas soluções para responder a novas solicitações”.
Com as devidas precauções, a Santra Casa da Misericórdia do Porto mantém operacionais os seus equipamentos de apoio. "Nós temos dois equipamentos que estão operacionais e estão a receber pessoas. Estamos a dar as respostas cautelares que são necessárias com a prevenção que o momento exige”, refere António Tavares que diz ter consciência “de que em determinadas circunstâncias isto vai depender muito da pressão das situações".
O Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto admite que o momento pode levar “ a um abrandar do número de voluntários que apoiam aos sem-abrigo”, mas sublinha por outro lado que “também existe a convicção de que as pessoas estão a procurar outros locais para se protegerem” até porque em "alguns sítios já se nota uma redução do número de pessoas que procuram habitualmente ajuda".