Um automóvel, mais um, mais outro. E ainda outro… Duas carrinhas, um, dois, três camiões… Há fila nas bombas de gasolina à saída de Feces de Abajo, em direcção a Verín, Espanha.
Tem sido assim, desde há muito tempo, mas, sobretudo, desde sexta-feira, altura em que o ministro da Economia, Miguel Caldeira Cabral, apelou ao "civismo" da população residente próximo da fronteira com Espanha, pedindo-lhe para não abastecer combustível no país vizinho.
“Ontem, foi impossível. Está a ser impossível, com carros, carrinhas, camiões sempre a chegar. Não paramos um minuto”, conta à Renascença uma das funcionárias da estação de serviço
Fernando Costa vive em Chaves. É um entre os muitos flavienses que cruzam a fronteira para tirar partido da diferença de preços. “É muito mais barato. São 20 cêntimos de diferença por litro. Como opto por encher sempre o depósito, poupo muito. E o que poupo dá para comprar outras coisas. A vida está muito má”, conta.
Ondina Castro, consumidora habitual da gasolina espanhola, assegura que “compensa e muito” e que, por isso, vai “onde é mais barato”. Com o que poupa, pode “ gastar em outras coisas”, explica.
Também Humberto Santos, residente em Vila Pouca de Aguiar, se abastece sempre de gasolina em Espanha, aproveitando a ocasião para levar duas botijas de gás, que também “é mais barato”.
Já Carlos Silva, de Vila Real, em viagem para Ourense, diz que é a primeira vez que está a abastecer o camião em Espanha. Está a fazê-lo “porque é mais barato, menos 11 cêntimos em litro”, mas também porque “aquele ministro [da Economia] não manda na minha carteira”.
"Estamos a vender muito mais"
A diferença de preços entre Portugal e Espanha é significativa, o que explica a razão da procura que os portugueses fazem todos os dias, do lado de cá da fronteira de Vila Verde da Raia. O responsável pela gasolineira de Feces de Abajo, João José, confirma: "Tem-se notado muito pela diferença de preços. Os impostos subiram [em Portugal]. Já tivemos essa subida de impostos cá há uns anitos, mas, agora, notou-se bastante a afluência dos portugueses."
O empresário não entende o apelo lançado pelo ministro da Economia aos portugueses para que não abasteçam em Espanha e diz que o efeito até foi contrário ao pretendido por Caldeira Cabral. “Estamos a vender muito mais. Não sei por que razão o ministro disse essas palavras, porque o que a gente procura é poupar. Estamos num momento em que precisamos de poupar dinheiro”, diz, argumenta, realçando que em Espanha "poupa-se bastante dinheiro", sobretudo na gasolina, mas também no gasóleo.
Neste posto de combustível, não são só os clientes portugueses que são em bem maior número que os espanhóis. Também os funcionários são, na maioria, portugueses.