- Ouça a reportagem de Liliana Carona
Está quente a ferver, o chá que vem nos termos que todos os convidados trazem. Chá de tília e camomila, frutos vermelhos. Há para todos os gostos. Os bolos e as bolas são oferecidos pela Cáritas de Gouveia. E, depois da mesa posta, com ajuda de todos, no salão da Junta de Freguesia de Gouveia, é tempo de saciar a solidão dos dias. Há cantigas, declamam poesia e até contam anedotas. Com pouca pimenta, garantem.
Na hora do chá, só fica de fora a solidão. O mais importante é rir, mas por detrás das gargalhadas esconde-se um problema grave.
Maria Fernanda Fontes, 78 anos, da Cáritas de Gouveia, fala num flagelo grave. “É um problema grande e procuramos fazer este dia para matar a solidão, a Cáritas oferece os bolos e cada senhora traz um termo de chá, e enquanto aqui estão é uma alegria, o objetivo é prevenir a solidão”, explica, acrescentando que a iniciativa é mais dirigida às mulheres, porque “os homens sempre vão aos cafés, enquanto as mulheres não têm tanto esse hábito.
A ideia do “Chá contra a solidão” começou há 10 anos, com Emília Nascimento, 88 anos, também ela, que é mentora do projeto, vive sozinha. “Queria que se fizesse alguma coisa em prol das pessoas de idade, que não saem de casa, e então decidimos fazer este convívio na quinta-feira de cada mês”, conta.
E são muitos os idosos que comparecem à chamada da Cáritas, porque ficar em casa é ficar sozinho ou praticamente sozinho.
Conceição Saraiva, 80 anos, só tem a companhia de um passarinho. “Tenho um canário que é um espetáculo, é um ótimo companheiro”, admite.
Maria da Conceição, 86 anos, diz ter a companhia de Deus. “Vivo mais Deus, estou sozinha, e aqui estou acompanhada”, sublinha.
Maria Margarida, 84 anos, cansa-se de ver televisão. “Vim aqui para conviver com as pessoas e me distrair, aqui cantam, conversam, contam anedotas. Em casa é só televisão, fazia crochet, mas já não vejo bem”, lamenta.
Alguns idosos deixam de ter vontade para cozinhar ou até passear, mas este convite da Cáritas é aceite todos os meses por cerca de 30 pessoas que não recusam o convite para um chá. “Só não venho quando estou doente”, garante Maria da Conceição.