Tourada gera tensão no Parlamento. Deputado do Chega chama “hipócrita” a deputada do PAN
26-05-2022 - 12:59
 • Manuela Pires , Marta Grosso

Bloco de Esquerda pede que o insulto pessoal não seja permitido no Parlamento. Em discussão estava a proposta do Chega de pretende baixar o IVA das atividades tauromáquicas para 6%.

O debate desta quinta-feira de manhã na Assembleia da República ficou marcado por um momento de discussão tensa entre algumas bancadas por causa do Chega. O deputado Pedro Pinto defendia a redução do IVA na tauromaquia de 23% para 6%, mas não gostou da intervenção da deputada do PAN e respondeu com um insulto.

“A senhora deputada, já que gosta tanto de animais, faz-me lembrar os golfinhos. A senhora deputada sai da água, chega aqui acima, faz um pinote e volta para dentro de água. Porque, realmente, a mistura que fez... a senhora é hipócrita. Não me leve a mal, mas é”, afirmou.

“Sabe porquê? Eu vou-lhe explicar: porque eu nunca a vi nesta casa, quando um polícia é morto à porta de uma discoteca, falar nisso; nunca a ouvi falar quando morre um adepto no futebol nos festejos do campeonato nacional. A senhora é hipócrita, acabou”, exclamou.

Inês Sousa Real pediu para intervir para defesa da honra, mas o presidente da Assembleia da República, que não se apercebeu do que Pedro Pinto tinha dito, adiou tal intervenção mais para a frente.

Contudo, as palavras do deputado do Chega não passaram despercebidas ao Bloco de Esquerda, cujo líder parlamentar convidou “a mesa a escutar a intervenção do orador anterior”, Pedro Pinto, pois “o insulto pessoal não deve ser permitido nesta casa”.

E logo de seguida a bancada socialista declarou “subscrever a última intervenção do líder da bancada do Bloco de Esquerda”.

Perante tais declarações, o presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, interveio.

“Não consegui acompanhar a intervenção do senhor deputado. Há problemas ou de dicção ou das condições acústicas da Assembleia ou da minha própria audição. Mas, sendo assim, vou usar da faculdade que o regimento me permite e conceder de imediato o pedido de defesa da honra à deputada Inês Sousa Real”, afirmou.

A discussão durou mais de 10 minutos. Pedro Pinto defendeu que o Chega é o único partido a apoiar a tauromaquia e a caça "sem medo, sem complexos e sem preconceitos" e lançou um apelo ao PS para que largue "as amarras do extremismo do PAN e vote a favor desta proposta".

Inês Sousa Real pediu a palavra para responder que se "ter sensibilidade para com os animais é ser extremista", o partido sê-lo-á "com todo o gosto", lembrando que no passado fim de semana um jovem de 16 anos morreu numa largada nas festas da Moita, no distrito de Setúbal.

Já depois do debate, a proposta do Chega para baixar o IVA das atividades tauromáquicas voltou a ser chumbada pelos deputados com os votos contra do PS, PAN, BE e Livre, a favor de Chega e PSD e abstenções de IL e PCP.

Uma outra proposta em debate, avocada pelo PAN, para baixar o IVA para 6% em atos médico-veterinários, foi também rejeitada pelos deputados. Desta feita, o Chega votou a favor juntamente com o PAN, BE, IL e Livre, com o PS contra e as abstenções de PCP e PSD.

Os deputados analisam, nesta manhã, a proposta de Orçamento do Estado na especialidade.