É uma primeira reunião que serviu para identificar os problemas, falta identificar as soluções. O Governo reuniu-se, esta terça-feira à tarde, com várias associações que representam as várias sensibilidades na Área Metropolitana de Lisboa, uma semana depois de um período marcado pela violência em várias zonas da Grande Lisboa, na sequência da morte de Odair Moniz baleado por um agente da PSP.
À saída da reunião, António Leitão Amaro, ministro da Presidência, colocou a tónica em resolver os problemas da vida das pessoas, sobretudo daquelas que vivem em bairros sensíveis.
"Devemos combater as formas de discriminação, mas temos uma grande atenção à vida concreta das pessoas", sublinhou o ministro, que identificou os problemas da habitação e de falta de médicos de família como exemplos que contribuem para situações destas.
Apesar disso, não foram apresentadas nenhumas propostas concretas.
Também depois de ser recebido pelo Governo, Jaquilson Pereira, da Associação Moinho da Juventude, sediada na Cova da Moura - bairro onde Odair Moniz foi baleado - pediu que destes encontros saiam medidas mais objetivas, apesar de assumir que serem ouvidos já é um bom primeiro passo dado pelo executivo.
"Saímos daqui com alguma esperança, em termos de expectativa tem de ser materializado", lamentou Jaquilson Pereira.
Mais insatisfeito estava Mamadou Ba, da SOS Racismo, à saída do encontro, que assumiu ter provocado "desilusão". O dirigente desta associação revela que pediu a demissão do diretor nacional da PSP por considerar que "não tem condições para se manter no cargo". "Encobriu factos", acusa Mamadou Ba. Mas não surtiu efeito.
"Deixou-nos bastante desconfortáveis ouvir o ministro reafirmar a confiança da sua polícia. Pedimos também a suspensão imediata do agente que está envolvido diretamente no assassinato do Odair e não obtivemos resposta", lamenta.
Pelos dois lados foi mencionada a necessidade de haver "proximidade" na atuação das forças de segurança, mas pouco ou nada foi adiantado para que isso passe a acontecer.
Quinze associações recebidas
Ao que a Renascença apurou, 15 associações foram recebidas no Campus XXI, a nova sede do Governo onde ainda funcionam vários serviços da Caixa Geral de Depósitos.
Em nome do Governo estiveram o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e a ministra da Juventude, Margarida Balseiro Lopes.
Entre as várias associações presentes está o Movimento Vida Justa, que organizou as manifestações de protesto pela morte do cidadão na Cova da Moura às mãos da polícia. Inicialmente não foi convidado, mas o Governo corrigiu o lapso.
Segundo uma nota enviada pelo ministério da Presidência do Conselho de Ministros, as associações convidadas são: Moinho da Juventude, Mundo Nôbu, Afrolink, Movimento Nu Sta Djuntu – Estamos Juntos, Associação Caboverdeana, Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu, Academia do Johnson, Associação HELPO, Semear o Futuro, Djass - Associação de Afrodescendentes, FEMAFRO – Associação de mulheres negras, africanas e afro descendentes em Portugal, Movimento SOS Racismo, Plataforma Gueto, Associação para a Mudança e Representação Transcultural, Associação filhos e amigos de Farim, Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e a Associação Kamba.
[notícia atualizada às 19h28 com as declarações do ministro da Presidência e das associações depois de saírem da reunião com o Governo]