O líder parlamentar socialista considerou esta quinta-feira incompreensível e inusitado que a Ordem dos Médicos tenha instaurado um inquérito ao deputado Lacerda Sales, e recusou participar numa "degradação das instituições" ao viabilizar as audições do ex-governante e de Marta Temido.
Em declarações aos jornalistas no parlamento, Eurico Brilhante Dias manifestou "absoluta solidariedade" com o ex-secretário de Estado e atual deputado do PS António Lacerda Sales perante as notícias de que a Ordem dos Médicos abriu um inquérito sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, que irá avaliar os médicos envolvidos, incluindo Lacerda Sales.
"É absolutamente inusitado que uma ordem profissional, que não tem qualquer competência de escrutínio de atividade de um membro ou ex-membro do Governo venha abrir um inquérito ou uma averiguação no quadro de uma decisão, ou possível decisão, de um membro do Governo", defendeu.
O líder parlamentar do PS salientou que "não é essa a função das ordens profissionais" e considerou que este inquérito devia "fazer com que a própria Ordem e os órgãos da Ordem tomassem alguma posição pública quanto isto".
"Há momentos em que temos de dizer, temos de parar com isto. (...) Porque não é compreensível, é de todo inusitado - eu estou a tentar conter-me nas palavras - que a Ordem dos Médicos tome uma posição como esta", reforçou.
Questionado se o PS pretende viabilizar as audições a Lacerda Sales e à ex-ministra da Saúde Marta Temido requeridas novamente esta quinta-feira pela IL, Brilhante Dias disse que o seu partido não pretende participar na "extensão de um circo para dentro da Assembleia da República".
O líder parlamentar socialista indicou que, até ao momento, o PS já solicitou a audição da presidente do conselho de administração do Hospital Santa Maria, assim como do atual ministro da Saúde, Manuel Pizarro, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, além de ter também requerido o relatório final da auditoria interna do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.
"Nós queremos escrutinar: vamos ouvir quem temos de ouvir, e não vamos naturalmente entrar numa lógica de degradação contínua das instituições. Portanto, vamos primeiro ouvir quem temos de ouvir", disse.
Interrogado, contudo, se não faz sentido ouvir os dois atuais deputados socialistas, tendo em conta que tutelavam a saúde quando as gémeas luso-brasileiras receberam o tratamento com o medicamento Zolgensma, Brilhante Dias respondeu que "não faz sentido" enquanto não se ouvir os atuais responsáveis políticos.
O líder parlamentar do PS questionou o que é que António Lacerda Sales poderá dizer ao parlamento, tendo em conta que já pediu para aceder à documentação sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, sendo que, até ao momento, ainda não a recebeu.
"Nós não vamos transformar a Assembleia da República num espaço degradado de escrutínio. Há um momento em que não podemos prosseguir: chegámos ao limite de ter um grupo parlamentar a pedir a vinda de cidadãos, neste caso porque são filhos de um titular de um órgão de soberania", criticou, referindo-se ao requerimento da IL para a audição de Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República.
O líder parlamentar do PS reconheceu que já houve ex-governantes a serem chamados para audições no parlamento, mas considerou que o atual caso é diferente, tendo em conta que também está a ser investigado pelo Ministério Público e pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.