Os critérios epidemiológicos da matriz de risco para travar o desconfinamento, o R(t) acima de 1 e a incidência de 120 casos por 100 mil habitantes, devem ser alterados, defende o virologista Pedro Simas em declarações à Renascença.
Em vésperas de o Governo anunciar com será a próxima fase de desconfinamento, a partir de segunda-feira, o especialista defende que Portugal “deve desconfinar como está planeado”.
Pedro Simas admite que a questão fazer uma pausa nos concelhos com maior incidência de casos de Covid-19 “é debatível”, mas há condições para o país iniciar a terceira fase de desconfinamento a 19 de abril, como previsto no plano do executivo.
A incidência e os indicadores estão a subir, mas continuam a ser “muito baixos e o desconfinamento deve continuar”.
O virologista aponta vários fatores: “os indicadores epidemiológicos são baixos, temos já uma percentagem praticamente total da primeira fase do plano nacional de vacinação executada, temos os grupos de alto risco praticamente todos protegidos”.
Nestas declarações à Renascença, Pedro Simas afirma que “com o desconfinamento o número de casos vai aumentar, isso é inevitável, mas esse número de infeções não se vai refletir num maior número de internamentos, por isso é que estamos a vacinar”.
“Há duas semanas que não existem mortes nos lares, por exemplo, o que é um bom indicador”, sublinha.
Questionado se as autoridades de saúde deveriam alterar os critérios da matriz de risco, o Rt e incidência de casos por 100 mil habitantes, Pedro Simas responde afirmativamente.
“O indicador epidemiológico mais importante é o número de internamentos, os outros critérios servem para tentar projetar se vai haver muitos internamentos ou não. Estamos numa fase de transição que é nova: temos a população protegida, portanto, podemos ter um Rt maior e um número de infeções diárias maior. Se me pergunta diretamente? Sim, têm que ser revistos. Podemos tolerar mais do que essas infeções, não podemos voltar a confinar porque ultrapassámos esse número e essa linha vermelha”, defende.
Pedro Simas considera que é preciso atuar com flexibilidade neste ponto da pandemia e admite que haja pausas no desconfinamento nos concelhos mais problemáticos.
“Isso tem de ser visto de uma maneira um bocado flexível. Se houver um concelho mais problemático do que outro, aí o Governo se precisar deve desconfinar mais ou menos”, remata.
O índice de transmissibilidade (Rt) voltou a subir esta quarta-feira para 1,06 e os especialistas acreditam que Portugal poderá ultrapassar os 120 casos de Covid por 100 mil habitantes dentro de 15 dias ou um mês.
O ministro da Administração Interna afirmou hoje que o Governo vai adotar na quinta-feira "um justo equilíbrio" entre desconfinamento e medidas restritivas, ou de suspensão do processo de reabertura, nas zonas mais atingidas pela covid-19.