Ao quarto dia de greve da CP e da Infraestruturas de Portugal, a sobrelotação das composições mantém-se.
Filomena Baldé é uma entre centenas de passageiros à espera na estação do Cacém, na linha ferroviária de Sintra. Está sentada num dos bancos na estação, há já mais de uma hora. A filha, de cerca de um ano, está num carrinho de bebé, distraída com o telefone da mãe que mostra desenhos animados.
Quer entrar num dos poucos comboios que passam - apenas dois em duas horas - mas nem sequer tentou: nem com a criança ao colo conseguiria um lugar, quanto mais com o carrinho de bebé. Por isso, espera pacientemente que chegue um comboio com espaço para poder seguir viagem.
Enquanto espera, Filomena vai ouvindo a revolta dos passageiros, fartos de esperar.
"Pagamos o passe e não temos transporte", lamenta Carla Castanheira.
"O governo tem de fazer alguma coisa", lamenta uma outra passageira, enquanto um homem de meia idade, a tiritar de frio, sugere que nas próximas eleições "as pessoas se lembrem em quem votaram e em quem nos deixa lidar com os problemas decorrentes desta greve".
Ao fundo da plataforma, Faustino António puxa o gorro para se proteger do frio. Admite que tem sido complicado andar de comboios por estes dias. "Não foi fácil, porque desde segunda-feira que me levanto ás cinco da manhã, para tentar apanhar o primeiro comboio, que passa aqui pouco depois das seis da manhã."
Pior é que, muitas vezes, os comboios são sucessivamente adiados. E a espera desespera.
Quando chega algum, é a confusão total. Sandra Mendes está para sair da plataforma e da estação. Passou um comboio, mas cheio demais. "Não entrei. Está tanta gente que começo a ter ataques de ansiedade. Prefiro esperar por outro ou vou de Uber ou de táxi". Muitos tomam a mesma decisão, depois do comboio ter saído da estação, rumo a Lisboa, com as portas meio fechadas. Houve quem não conseguisse puxar a mala ou a bolsa a tempo, e parte dela faz a viagem da parte de fora do comboio.
A bordo já segue João Guerra. Ontem, estava no comboio que ficou retido, durante uma hora, entre as estações de Benfica e Sete Rios.
"Foi uma aflição. Alguém puxou o travão, e bem, porque havia gente a sentir-se mal, tal a quantidade de passageiros a bordo", admitia, com alguma emoção.
Questionava, contudo, a paragem por tanto tempo e a solução para retirar as pessoas a bordo.
"Já estive em comboios em que houve pessoas a sentirem-se mal, mas o INEM estava à espera delas na estação seguinte. Ontem, mesmo com tanta gente a bordo, teria sido a opção mais sensata."