Os 50 anos do Expresso e as suas merecidas comemorações representam muito mais do que uma justíssima homenagem ao seu fundador, Francisco Pinto Balsemão, e a todos os que nele trabalharam ou trabalham.
A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são mais frágeis do que se julga e menos adquiridas do que gostaríamos.
A invasão do Capitólio e agora, dois anos depois, os tumultos de Brasília, são expressão dessa fragilidade.
Há quem apenas se reveja na Democracia quando o resultado lhe agrada; e a desconsidere – no limite, com violência - quando assim não sucede.
Na esfera digital, os cancelamentos e a linguagem censória ou violenta que visa criar um pensamento único, são filhas da mesma intolerância. Constituem novas tentativas de anular ou arrasar a liberdade de pessoas ou de grupos.
Direta ou indiretamente estas espécies de matilhas digitais estão ligadas à instrumentalização da violência que depois desagua nas ruas.
As guerras, presentes ou passadas, representam outras formas subjugar a vontade dos outros e de lhes impor a (suposta) lei do mais forte. Não apenas as guerras mais ao pé da nossa porta, mas também todas aquelas que embora longe dos holofotes condenam milhões de pessoas à miséria e à precariedade de vida permanente.
Sabe-se que a Democracia não é perfeita e frequentemente não responde com celeridade e eficácia a problemas concretos das pessoas.
Não é difícil enumerar carências nem áreas de intervenção prioritárias – umas mais indiscutíveis, outras menos.
Entre nós, o combate à pobreza é inseparável de um sistema de educação que baseado na liberdade de escolha permita gerar mais desenvolvimento pessoal e social. E que sobretudo não perpetue a pobreza cíclica, em que tantas vezes caem os filhos das famílias mais pobres.
O sistema judicial, sem uma reforma profunda, fomentará um tremendo sentimento de injustiça, em que se perceciona, por assim dizer, que a lei é mais igual para uns do que para outros; um sistema no qual, os mais fortes, podendo estar fora da lei, parecem muitas vezes estar acima dela.
A fragilização dos cuidados básicos de saúde e a falha na criação de uma rede nacional de cuidados paliativos acessível a todos, numa altura em que a esperança de vida aumentou significativamente, é outro aspeto crucial que contribui para que muita gente se sinta a mais ou, pelo menos, fora do sistema.
A instrumentalização da ética (nem republicana nem monárquica, mas antes constitutiva da dignidade de todos e de cada um) ou a sua não valorização acabam por contribuir para uma mentalidade relativista - nos negócios, no trabalho, no mundo sindical, na vida pública ou na esfera privada.
Não significa isto que em nome da ética se possam paralisar todas as decisões, mas é indispensável que todas elas, uma vez tomadas em consciência, possam ser eticamente fundamentadas.
Haverá, para outros, diferentes prioridades. E ainda que estivéssemos todos de acordo sobre aquilo que é mais prioritário, haveria sempre divergências sobre as conceções que mais defendem e melhor promovem o bem comum.
Porém, sem liberdade as carências não seriam menores e a decisão sobre as prioridades estariam reservadas a um grupo (mais à direita ou mais à esquerda) que imporia as suas opções ao resto da sociedade.
Sem liberdade não é possível escrutinar, debater e escolher. Nesse aspeto, os meios de comunicação devem continuar a desempenhar papel decisivo que não se confunde nem dilui nas redes sociais.
Ao nível da opinião as redes sociais constituem uma gigantesca mesa de café. E nessa mesa de café convivem todos ou quase todos e nela quase tudo cabe.
Com discernimento e mediação, os meios de comunicação – rádios, jornais e televisões – nunca foram incompatíveis e sempre conviveram com as diferentes mesas de café, do respetivo tempo.
Hoje, talvez mais do que nunca, os media devem permanecer fiéis a esse discernimento e mediação – falível, mas permanente – que procura separar o trigo do joio.
Por isso, é importante celebrar os 50 anos do Expresso e os seus contributos para a liberdade; assim como o papel de muitos outros profissionais e outros media portugueses que nascidos antes ou depois de 1974 foram essenciais para conquistar ou preservar a liberdade; desde a República e tantos jornais durante o Estado Novo, até a títulos tão diversos como o Tempo, Jornal Novo, O Independente, Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Diário de Notícias ou o Público, passando pela Renascença - decisiva para garantir a liberdade de expressão e de informação, a seguir ao 25 de Abril.