Portugal tem mais de 8 mil médicos de família e, destes, menos de cinco mil trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os dados mais recentes são da Associação de Medicina Geral e Familiar (AMGF) e são relativos a 2021. Para esta estrutura, a falta de estratégia e de aposta numa carreira no SNS explica o êxodo de profissionais para o setor privado. Para Nuno Jacinto, é preciso que o Ministério de Saúde crie condições para atrair os médicos para o serviço púbico. “Sem uma aposta clara nas condições de trabalho e nas remunerações dos profissionais, nunca será possível resolver esta grande questão”.
“Se nada for feito, em vez de um milhão e 700 mil pessoas sem médico de família estaremos a falar, daqui a pouco, de dois milhões”
Nuno Jacinto diz que estão a ser dados passos tímidos, mas ainda não chega e há coisas das quais não se fala e nas quais não se trabalha.
“Tudo isso tem de ser atacado e tem que ser modificado o que foi o comportamento dos últimos anos relativamente aos cuidados primários”, explica o presidente da AMGF.
Nuno Jacinto admite à Renascença que esta nova equipa do Ministério da Saúde está ainda há pouco tempo em funções e que, mesmo assim, tem dado passos ainda que tímidos no sentido do que quer o setor, como as baixas de curta duração e uma revisão do modelo remuneratório. Diz Nuno Jacinto que “tem de ser dado o benefício da dúvida".
Para este especialista, o grande problema é a falta de recursos humanos. “Sem isso nunca teremos uma solução”.
Nuno Jacinto defende que de nada vale criar espaços e construir edifícios se não há profissionais para lá colocar. E essa solução precisa de condições de trabalho, que não podem aparecer de um dia para o outro, mas que têm de começar a ser criadas. Só assim teremos profissionais interessados em ir para o Algarve, para a grande Lisboa e outras zonas do Norte do país onde a falta de profissionais é gritante.
Outra questão é o modelo das unidades funcionais. Há muito que o trabalho está no papel, mas muitas das decisões daí não saem. Estão previstas três modalidades de USF: modelo A, B e C. Estas modalidades diferenciam-se com base no grau de autonomia, modelo retributivo e modelo de financiamento/estatuto jurídico. Por implantar está o último modelo, que pode implicar uma participação dos privados. E, ao contrário de Marta Temido, Manuel Pizarro admite poder recorrer a este modelo, se for necessário.
No entanto, e para Nuno Jacinto, não sem antes serem colocadas no terreno todas as valências dos modelos A e B. O modelo C, para o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar, não implica necessariamente a entrada de privados, mas pode muito bem ser uma cooperativa profissionais de médicos a tomar contas destas unidades. À Renascença, Nuno Jacinto é bem claro ao dizer que estas unidades devem sempre ser a exceção. "Não nos parece bem que seja uma solução generalizada”, finaliza, dizendo que, primeiro, é preciso otimizar o que Portugal tem neste setor.
Neste que é o Dia Mundial do Médico de Família, Nuno Jacinto acredita que Manuel Pizarro, ministro da Saúde, pode mostrar que está preocupado com esta questão e que está sensível com a necessidade de valorizar o trabalho destes profissionais. “Somos otimistas por natureza e acreditamos que seria uma boa data para dar algumas boas noticias aos médicos de família, para os voltar a fazer acreditar no serviço nacional de saúde,” remata.