O presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), Rodolfo Queirós, disse esta quarta-feira à agência Lusa que espera uma quebra na produção face ao ano anterior, devido à seca, mas que o vinho será de qualidade.
“Em 2021 foram [produzidos] à volta de 22,5 milhões de quilos [de uvas]. Este ano, não sei como é que será em termos de quantidade. Estamos a contar com alguma quebra. Neste momento, não consigo quantificar essa quebra”, disse o responsável.
Rodolfo Queirós referiu que as maiores Adegas Cooperativas da área da CVRBI, como Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Franca das Naves, ainda não iniciaram as vindimas e é cedo para calcular a diminuição da produção de vinho deste ano, embora admita que a quebra poderá ser “entre 15 a 20%” face ao ano anterior.
Disse que é difícil calcular a produção para este ano dado que recentemente ocorreram dois episódios de queda de chuva em alguns locais da região, que “foram euros que caíram” na vinha: “Antigamente havia um ditado que dizia que quando chovia nesta altura eram contos de reis e, agora, se calhar, são notas de euros que caem na vinha e que ajudaram a que alguma humidade fosse reposta e a planta absorveu essa humidade e vai ficar com os bagos com um bocadinho mais de peso e com maturações mais equilibradas”.
“Teremos ainda que aguardar, mas eu diria que há quinze dias o cenário parecia mais complicado do que neste momento”, acrescentou.
O presidente da CVRBI apontou que o período de seca vai continuar, mas tem registo de que “já começam a aparecer os nevoeiros matinais, com alguma humidade”, o que ajuda a repor alguns teores de humidade nas uvas.
Em termos sanitários, segundo o responsável, as uvas estão “excelentes”, o que augura um ano de vinho com “qualidade garantida” e “francamente bom”.
Com cerca de 400 sócios e uma área de abrangência que abarca vários concelhos da zona sul da Beira Interior, a Adega Cooperativa do Fundão (Castelo Branco) iniciou a campanha no dia 26 e os primeiros indicadores apontam para perdas na produção, provocados pelos efeitos que a seca está a ter nas vinhas.
“Aquilo que os sócios nos têm transmitido é que as perdas são muito acentuadas e que as quebras podem chegar aos 40%, o que é uma situação preocupante para todos”, referiu à Lusa o presidente da Adega Cooperativa do Fundão, António Madalena.
Segundo explicou, o grande problema está relacionado com a falta de água nos solos, o que afeta as videiras e põe em causa o normal desenvolvimento das uvas e respetivo ciclo de maturação, havendo também casos de “escaldão” provocados pelas elevadas temperaturas.
Em 2021, a Adega do Fundão recebeu cerca de um milhão de quilos, número que este ano deverá diminuir.
Alertando para os “prejuízos mais que certos” que agricultores e adegas vão ter, António Madalena defendeu ainda que o Governo devia olhar para a situação com “alguma atenção e cuidado”, no sentido de encontrar medidas mitigadoras do problema.
Para já, ressalvou, o indicador mais positivo prende-se com a qualidade que não foi afetada, até porque a reduzida humidade contribuiu para uma menor propagação de doenças.
A CVRBI tem sede na cidade da Guarda, no Solar do Vinho, e abrange as zonas vitivinícolas de Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, nos distritos de Guarda e de Castelo Branco, que correspondem a uma área de 20 municípios, onde se contabilizam cerca de cinco mil viticultores.
Na área da CVRBI, com perto de 16 mil hectares de vinhas, existem cerca de 60 produtores de vinho, sendo quatro adegas cooperativas e os restantes produtores particulares.