Fátima é um destino seguro e assim que for possível retomar as viagens internacionais, está em condições de receber os peregrinos de todo o undo. Essa é uma ideia que os diversos participantes no 9º Workshop Internacional de Turismo Religioso fazem questão de passar nos dois dias de trabalhos – esta quinta-feira e sexta-feira. Organizado pela ACISO – Associação Empresarial de Ourém-Fátima - por causa das limitações da pandemia, decorre, pela primeira vez, exclusivamente on-line.
Nada que impeça a participação de 107 “hosted buyers” e 78 “suplliers” de 34 países. Para estes dois dias estão agendadas mais de 3.400 reuniões de negócios entre operadores turísticos. A India apresenta o maior número de interessados (17), seguida do Brasil (16), Estados Unidos (8), Filipinas (7) e Colômbia).
Um encontro em se que mostram as potencialidades de um destino com vários caminhos, mas que também pretende valorizar a região Centro e o país, captando viajantes durante todo o ano, para todo o território e que acrescentem valor.
O Rio de Janeiro foi o convidado desta edição e desta forma a organização quis destacar um dos países com maior número de devotos a Nossa senhora de Fátima e que têm um peso muito grande nas peregrinações a Fátima.
Fátima é um destino seguro
Esta foi a mensagem que todos os participantes na sessão de abertura fizeram questão de frisar. A começar pelo reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas. Admitindo que tem sido “um ano dramático” para Fátima, garantiu que os visitantes podem contar com toda a segurança sanitária no Santuário mas também na hotelaria, restauração, comércio e serviços da cidade. “Todos nos adaptámos às necessidades”.
Para chegar aos crentes em tempo de confinamento e de maiores restrições, o Santuário apostou nas celebrações on-line, podcast, vídeos. Mas o desejo é que todos voltem ou visitem o local de peregrinação Fátima porque “é um lugar seguro”.
É o que pretende fomentar o Workshop de Turismo Religioso, que pela primeira em nove edições, decorre em modo virtual. Para isso, foi preciso montar uma plataforma própria para conseguir albergar as mais de 3.400 reuniões que vão decorrer entre “hosted buyers” e “suplliers”, em diferentes pontos do planeta e consequentemente, com fusos horários diversos. Mas Purificação Reis, presidente da ACISO – Associação Empresarial de Ourém-Fátima - espera que o próximo evento, previsto para o início de 2022, já possa ser presencial.
O importante é restaurar a confiança do viajante, reafirmou o presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro. Pedro Machado lembrou que é urgente retomar o turismo internacional, tão importante para Fátima, cuja influência ultrapassa em muito os 25 países prioritários na estratégia de internacionalização do Turismo de Portugal”. Por isso, considera que “é preciso que o passaporte digital seja alargado para países terceiros, além da União Europeia.
Essa importância é reconhecida pelo governo, garantiu a Secretária de Estado do Turismo, lembrando os programas de apoio ao turismo e aos empresários do sector, como o “Reativar o Turismo, Construir o Futuro” ou o “Turismo + Sustentável 2023”.
Rita Marques considera que o Turismo Religioso merece todo o apoio e “é um produto que deve ser acarinhado”, já que, ainda por cima, cumpre os três objetivos principais da Estratégia para o turismo 2020-2027: pode ser feito todo o ano, percorre todo o território e cria valor acrescentado com a diversificação de mercados emissores, atraindo turistas e peregrinos de países longínquos, como o Brasil, Estados Unidos, Coreia do Sul, Filipinas, México ou Índia.
O turismo religioso, nomeadamente em Fátima (ou para a Guarda, com a herança judaica) tem impacto também nas regiões e por isso as autarquias também se mostram muito empenhadas no apoio.
E se antes Fátima foi um contribuinte líquido para os cofres da Câmara de Ourém, agora é o município que está a ajudar a hotelaria e restauração da “cidade altar” com diversos incentivos. Um deles, o “Programa 10001 noites”, em que a autarquia oferece a 2ª noite de estadia a quem reservar a primeira, além de um voucher de 10 euros para gastar na restauração local, tem tido uma grande adesão.” 3.700 noites e mais de 1.500 vouchers já foram usados”, revelou o Chefe de Divisão de Ação Cultural de Ourém, Sérgio Francisco.
Fátima: um destino, diferentes caminhos
Neste momento o CNC – Centro Nacional de Cultura tem três caminhos consolidados para Fátima: o Caminho do Tejo (de Lisboa a Fátima, em cinco etapas) Nazaré-Fátima, atualmente com duas mas que em breve poderá ter três etapas; e o mais longo, o Caminho do Porto, que começa em Valença e a partir de Coimbra, se define pela “rota carmelita”.
No debate sobre os diferentes percursos para chegar a Fátima, Maria Calado, presidente do CNC, afirmou que há mais caminhos, mas estes são os que estão consolidados. Ainda assim, admite que possam ser feitas revisões dos percursos, por sugestão das comunidades intermunicipais que atravessam.
As parcerias são fundamentais para estruturar e desenvolver os produtos e Maria Calado, sublinhou “o trabalho muito produtivo com a Região de Turismo do Ccentro e do Alentejo-Ribatejo”. Ou a associação do Turismo de Portugal, a partir de 2017, o que permitiu um desenvolvimento mais sistemático dos caminhos e uma adaptação às plataformas de comunicação.
Aliás, o Turismo de Portugal inclui no seu site uma página dedicada aos “Caminhos da Fé” em que inclui Fátima, Santiago de Compostela, a herança judaica e mais recentemente, o legado islâmico. “O que faz de Portugal um destino ecuménico”, sublinhou Teresa Ferreira, diretora do Departamento de Dinamização da Oferta e Recursos do Turismo de Portugal.
Em preparação está o lançamento de uma credencial que “vai ser amplamente distribuída”, a partir de setembro, por todas as paróquias o país, alojamentos, restauração, pontos de turismo e que permitirá ao peregrino colecionar carimbos, ao longo do seu percurso. É uma iniciativa do Centro Nacional de Cultura e Maria Calado diz que quando estiver preenchida, o titular pode pedir o “Diploma de Peregrino dos Caminhos de Fátima”.
Pandemia mudou práticas religiosas dos crentes e as redes sociais vieram para ficar
Em 2020, por causa da pandemia e do confinamento, Fátima registou uma quebra de quase 80% no número de peregrinos. Em 2019 tinham chegado 6,3 milhões e o ano passado foram apenas 1,4 milhões, maioritariamente nacionais.
O Santuário adaptou-se, criou espaços próprios na Praça, com distanciamento e apostou nos espaços virtuais, com celebrações on-line, vídeos, documentários, podcast.
O número de seguidores no Facebook cresceu 20%, mas as grandes revelações foram o Youtube (aumentou as visualizações em mais de 300%) e o Instagram, que já conta com quase 120 mil seguidores.
Foram dados referidos pela professora universitária e investigadora Margarida Franca durante o seminário sobre o “Impactos e desafios da COVID-19 nos fluxos de peregrinação e de turismo religioso”. Em conjunto com a também investigadora Graça Poças Santos, está a realizar um estudo sobre as repercussões da pandemia nas vivências e práticas religiosas.
Os dados preliminares, com base em cerca de 600 inquéritos já validados, revelam que 80% dos inquiridos passaram a assistir à missa e a outras celebrações on-line, desde o primeiro confinamento. E mais de metade assume que quer continuar a usar os meios virtuais. “As redes sociais foram a revelação e permitiram colmatar a distância e o isolamento para boa parte da população”, diz Margarida Franca.
Considera que “as práticas religiosas tendem para um modelo misto, menos institucional, não descurando, no entanto, o contacto face a face”. O que até pode ser vantajoso: podem densificar a prática religiosa, não diminuindo aquela que estamos habituados a fazer que é a de proximidade, a peregrinar, a “gastar as solas dos sapatos”, como refere o Papa Francisco”.
Por outro lado, podem ser uma boa alternativa para aquelas pessoas que, por vários motivos, não se podem deslocar.
Para Graça Poças Santos ainda há muitas questões a que dar resposta, mas uma coisa é certa: “as redes sociais vieram para ficar e muitas destas práticas, também. Não vamos voltar atrás”