Os casamentos de raparigas menores em África e na Ásia devem aumentar devido à recessão económica causada pela pandemia de Covid-19, estimam a Organização das Nações Unidas (ONU) e organizações não-governamentais.
As dificuldades económicas associadas ao novo coronavírus vão levar mais 13 milhões de raparigas a casarem-se antes dos 18 anos, face ao que estava previsto antes da pandemia, avançou a ONU, enquanto a organização Save the Children adianta que quase meio milhão de raparigas menores estão em risco de se casarem neste ano, principalmente na África e na Ásia.
Na Serra Leoa, país em que a taxa de raparigas a casarem-se com menos de 18 anos desceu de 56% para 37%, entre 2006 e 2017, várias meninas regressaram à casa dos pais após o fecho das escolas devido à pandemia, em março, facto que contribuiu para a inversão da tendência decrescente.
"Não se sabia ao certo quando as aulas seriam retomadas. Muitos pais temiam que as filhas ficassem grávidas fora do casamento. Quando um filho se casa, o pai não é mais responsável pela sua alimentação, nem por pagar as suas despesas. Numa casa com muitos filhos, é uma pessoa a menos [para alimentar]", disse à Associated Press Isata Dumbaya, responsável da organização Partners in Health para a saúde reprodutiva e materna no país da África Ocidental.
Aquando do casamento, os pais 'livram-se' das despesas com a filha e recebem um pedaço de terra ou uma manada de gado a partir dos quais podem extrair rendimento, enquanto a menor tem de assumir as tarefas domésticas e o trabalho agrícola na nova casa, acrescentou.
Isata Dumbaya referiu ainda que "muitas das mães dessas meninas casaram-se na adolescência e veem o casamento precoce como normal".
Na Jordânia, cerca de 10% das raparigas casava-se com menos de 18 anos, mas essa taxa era maior entre os refugiados palestinianos e sírios, com tendência para aumentar, adiantou a representante da UNICEF para aquele país do Médio Oriente.
"Infelizmente, vimos um aumento no casamento infantil em campos de refugiados desde o início da pandemia, pois as famílias lutam para lidar com isso", disse Tanya Chapuisat.
Na Índia, o confinamento para conter o vírus no final de março fez com que milhões de migrantes perdessem os empregos, voltassem aos locais de origem e, com as escolas fechadas, recorressem ao casamento de raparigas menores para reduzirem as despesas.
A organização ChildLine Índia registou 5.214 casamentos prematuros entre março e junho de 2020, uma estimativa que considera abaixo da realidade, já que a maioria dos casos não é relatada.