Dois homens tentaram atirar ovos contra o político e ativista brasileiro Jean Wyllys, durante a conferência esta terça-feira à tarde na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC). Fora do edifício, mais de duas centenas de manifestantes antifascistas 'abafaram' o protesto do partido de extrema-direita PNR contra o deputado que fugiu do Brasil.
Um dos homens, que estava sentado no topo do auditório da FEUC, saiu do seu lugar, desceu alguns degraus e tentou atirar ovos contra Jean Wyllys, que já proferia a sua conferência.
Depois de atirar um primeiro povo, que não atingiu o político brasileiro, seguranças conseguiram segurar e remover o homem do auditório, que tinha uma caixa de meia dúzia de ovos.
De seguida, outro homem levantou-se, ainda tentou tirar um ovo, mas foi logo imobilizado pela segurança do evento.
Enquanto eram retirados, as pessoas gritavam "tira, tira", para os dois homens saírem.
"Não peçam para tirar. Nunca tive medo dos covardes", frisou Jean Wyllys, que pediu palmas para o segurança que o protegeu no ataque.
"Qualquer fascista covarde, que se queira manifestar, em vez de atirar ovos ou tiros, por favor, vamos aos argumentos. Levantem-se, manifestem-se, falemos", frisou o ativista brasileiro, salientando que as pessoas que lhe tentaram atirar ovos "são compostas por esse ódio que não permite a diversidade".
Está a construir-se uma "nova junta militar" para governar o Brasil
Jean Wyllys afirmou que está em construção uma nova junta militar para governar o Brasil, avisando o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, de que a cortesia com Bolsonaro tem limites.
O ativista assumiu o seu pessimismo em relação às próximas eleições no Brasil - "ainda não vejo um melhor cenário para as próximas eleições" - e deixou um alerta sobre "algo de muito perigoso que está a acontecer" no país.
Para o antigo deputado do PSOL - e crítico de Bolsonaro, Presidente brasileiro -, que desistiu do novo mandato e saiu do Brasil face às ameaças de morte que recebeu, está a constituir-se "uma junta militar para governar o país".
"As autoridades civis são tão medíocres, desqualificadas, desonestas intelectuais, burras, que, cada vez que uma delas cai [do Governo liderado por Jair Bolsonaro], é substituída por um militar. Então, os militares estão a constituir um Governo sem ter que colocar as armas na rua. Isso é preocupante. Isso é muito preocupante", frisou.
O deputado federal do Rio de Janeiro Jean Wyllys anunciou, em 24 de janeiro, ia desistir do novo mandato e deixar o Brasil após receber ameaças de morte, situação que se arrasta desde o homicídio da vereadora Marielle Franco.
"Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que o façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração", escreveu então Jean Wyllys, deputado do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), na rede social Twitter.
Segundo a imprensa brasileira, desde o homicídio da vereadora do PSOL Marielle Franco, em março do ano passado, que Wyllys tem vivido sob escolta policial, tendo recebido com frequência ameaças de morte. Marielle Franco, vereadora e defensora dos direitos humanos, foi assassinada na noite de 14 de março de 2018, quando viajava de carro pelo centro do Rio de Janeiro, depois de participar num ato político com mulheres negras.
Wyllys tornou-se, de acordo com a imprensa brasileira, no primeiro deputado parlamentar assumidamente gay a apoiar assuntos relacionados com a comunidade LGBT (sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) no Congresso Nacional brasileiro.
A assessoria de Jean Wyllys afirmou à plataforma de notícias G1 que há uma campanha "muito pesada" contra o deputado, que dissemina conteúdo falso sobre ele na internet, associando-o, a casos de pedofilia, ao casamento de adultos com crianças e à mudança de sexo em casos infantis.
A 8 de fevereiro, Assembleia da República aprovou um voto de condenação às "ameaças à integridade física de titulares de cargos políticos e ativistas dos diretos humanos no Brasil", numa votação que motivou sentidos de voto diferentes dentro das bancadas.
O voto, apresentado por André Silva, deputado único do PAN, e pelo deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira, foi aprovado com os votos favoráveis dos proponentes, do PS, do BE, do PCP, do PEV e dos deputados centristas Ana Rita Bessa, Assunção Cristas e João Almeida.