Presidente da República: "Se há heróis da democracia, são os portugueses"
25-04-2017 - 11:43

Marcelo assinalou todos os que em Portugal se batem diariamente pela construção da democracia, deixando um apelo à negação dos populismos e rejeitando um "nacionalismo egocêntrico, agarrado ao passado, insusceptível de agarrar o futuro". Com um recado para o Governo e outro para os autarcas, o discurso, transversal, foi aplaudido de forma diversa pelos diferentes grupos parlamentares. Seguiu-se o hino nacional, pela quarta vez desde o início do dia, cantado, pelos deputados, com renovado ímpeto.

O Presidente da República quis assinalar esta terça-feira, 25 de Abril, que "não podemos olvidar que, se há heróis da democracia, são os portugueses". "Eles a converteram, a democracia, de projecto colectivo em vida", declarou.

A “elevação e a atenção aos portugueses protege-nos a todos contra a descredibilização da política”, disse Marcelo. No tempo dos populismos anti-institucionais, continuou, é importante o orgulho nos marcos históricos para uma sociedade que se quer “mais livre e mais justa”, mas valorizando os órgãos da democracia, “a começar pelas Forças Armadas”.

“Os portugueses constroem a democracia global”, “nas escolas, nos lugares de trabalho, nas misericórdias, na IPSS, nas igrejas a que pertencem”, sublinhou. “Constroem enquanto emigrantes, e quando recebem emigrantes e refugiados de todo o mundo, lembrando-se da sua [própria] odisseia”

“Ao fim de anos de sacrifício, tudo fizeram para sanear as contas públicas, criar condições para reduzir a dívida que têm sobre os seus ombros.”

“A nossa democracia, passado, presente e futuro, mais do que um sonho para alguns”, comporta três realidades, enumerou Marcelo: “É dos portugueses o mérito primeiro dos resultados das finanças economia e sociedade, o papel decisivo de criar um futuro melhor” e, acrescentou, “não tenhamos medo das palavras” são os portugueses que constroem a democracia todos os dias, fazendo-o “a pensar na pátria, como patriotas”, “fervorosamente orgulhosos da nação”.

"Os populismos alimentam-se das incompetências do poder"

“Os portugueses, rede social, rede de protecção social no terreno, têm permitido enfrentar crises antidemocráticas ou menos democráticas” e carecem, segundo o Presidente da República de que “todas as estruturas do poder político” e da justiça sejam “muito mais transparentes, rápidas e eficazes”.

“Os chamados populismos alimentam-se das deficiências, das incompetências, das irresponsabilidades e do compadrio com o poder económico e social.”

Numa chamada de atenção para as eleições autárquicas, que se realizam no dia 1 de Outubro, Marcelo assinalou também o valor do poder local. “Há, neste contexto, um bastião da nossa democracia: o poder local (…) uma das nossas mais vivas diferenças face à monarquia liberal e à primeira República."

"Águas, esgotos, lixos; [os autarcas] conhecem as suas caras, conhecem os seus nomes. O poder local não é isento de problemas e defeitos, como toda a obra humana, mas tem direito a ser celebrado no 25 de Abril", afirmou.

"Há datas que nunca serão indiferentes"

Sem cravo na lapela, Marcelo referiu que nestes tempos em que "se afigura tentador questionar instituições e ritos e simplificar", tempos "amiúde da substituição da substância pela forma", em que se substituem "carreiras laborais por expedientes de ocasião": tempos em que os racismos e a xenofobia estão em crescendo, é fundamental "mostrar que não nos esquecemos da nossa história" e que "há datas que nunca serão indiferentes".

Saudando aqueles que ficaram "bem vivos" na memória, aproveitando para deixar a referência a Mário Soares, Marcelo Rebelo de Sousa fez um apelo à negação da "sedutora miragem ditatorial", lembrando que "a democracia tem uma casa": a Assembleia da República. "Prestigiá-la dá vigor à nossa democracia", disse.

No final do discurso, o Presidente da República deixou ainda uma mensagem ao Governo, apontando que, até ao final da legislatura, "os anos terão de ser de maior criação de riqueza e de maior distribuição".Depois de sair do parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa segue para o Palácio de Belém, que estará aberto ao público e onde decorrerá pelas 14h00 a cerimónia de agraciamento, a título póstumo, do antigo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e do antigo bispo do Porto António Ferreira Gomes.

O PSD escolheu a deputada e candidata à Câmara de Lisboa, Teresa Leal Coelho, para fazer a intervenção do partido, enquanto pelo PS foi Alberto Martins a intervir. Pelo BE falou Joana Mortágua, pelo CDS-PP Isabel Galriça Neto e pelo PCP Jorge Machado. Heloísa Apolónia fez a intervenção do PEV e o André Silva a do PAN.

[Notícia actualizada às 12h47]