Um inquérito do Portal da Construção Sustentável no âmbito do conforto térmico da população revela que, neste inverno, mais de metade dos 1.220 inquiridos passou frio em casa.
À Renascença, a arquiteta e responsável pelo Portal, Aline Guerreiro, confessa que este “é um valor preocupante” e acredita que o número de pessoas que passam necessidades térmicas em casa seja muito superior do que o que apuraram, já que o inquérito foi totalmente online e há quem não tenha “possibilidade de aceder a internet e computador”.
A responsável do Portal explica, ainda, que este cenário se deve ao mau isolamento das casas, que “não estão preparadas para o frio”, e ao aumento dos preços de energia. “As pessoas não conseguem responder à necessidade de conforto térmico com equipamento e acabam por passar mais frio, por não conseguirem depois pagar a conta da eletricidade ou gás”, esclarece.
Aline Guerreiro diz que os portugueses “estão a resolver essas situações habituando-se a passar frio” ou recorrendo a mais agasalhos, como mantas e roupa.
Os atuais problemas no setor da habitação também têm influência no conforto térmico, uma vez que obrigam as pessoas a sujeitar-se "àquilo que o mercado lhes oferece”. “Hoje em dia, ter um sítio para morar já é bom, as pessoas com certeza que já não olharão a todo o resto”, acrescenta Aline.
A arquiteta defende que há problemas que persistem nas habitações. Dá o exemplo das casas que não estão bem orientadas para a luz e “não podem tirar partido do sol para se climatizar”. A má construção e a falta de isolamento são também problemas que, se não forem resolvidos, mantêm o mau conforto térmico, uma situação que, para Aline Guerreiro, “não faz sentido quando somos um dos países da Europa com maior número de horas de sol por ano.”
O Governo apresentou um financiamento para edifícios multifamiliares, mas “deixou de fora as alterações de caixilharias e vidros, que também influenciam o conforto térmico”, financiamentos que Aline diz serem “sempre bem-vindos”.
A responsável do Portal da Construção Sustentável conclui que ao longo dos anos não se tem notado melhorias no conforto térmico da população.