Morreu o arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, figura incontornável da arquitetura em Portugal bem como do movimento monárquico. Tinha 98 anos.
A notícia da sua morte foi confirmada pelo filho, Miguel Ribeiro Telles, ao jornal "Público". As cerimónias fúnebres decorrem no Mosteiro dos Jerónimos, com missa de corpo presente às 12h00, esta quinta-feira. Em comunicado, o Governo lembra e "enorme dívida de gratidão" do país para com Ribeiro Telles e decreta Dia de Luto Nacional para amanhã, 12 de novembro.
“O país tem para com Gonçalo Ribeiro
Telles uma enorme dívida de gratidão, quer no lançamento das bases da política
ambiental em Portugal, quer no desenvolvimento de uma consciência ecológica", indica o primeiro-ministro, António Costa. "Sendo um homem à frente do seu tempo, as ideias que defendia há 50 anos e eram
então consideradas utópicas são hoje comummente aceites. A sua perda é
inestimável. O seu legado, felizmente, perdura, e somos todos seus
beneficiários.”
Oposicionista ao Estado Novo, Ribeiro Telles, nascido em 1922, em Lisboa, esteve na fundação do Partido Popular Monárquico (PPM), após o 25 de Abril de 1974. Na qualidade de líder desse pequeno partido, foi subscritor, com Francisco Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, do acordo de constituição da Aliança Democrática (AD).
Pioneiro na temática ambiental, foi ministro de Estado e da Qualidade de Vida do VII Governo Constitucional, liderado por Pinto Balsemão, depois de exercer funções na pasta do Ambiente nos três primeiros governos provisórios, logo após o golpe que derrubou o Estado Novo.
No seu vasto currículo profissional, destaca-se o projeto dos jardins da Fundação Gulbenkian, um espaço que se tornou emblemático.
Este facto é destacado numa note de pesar do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, que "expressa o seu profundo pesar pelo desaparecimento" de Ribeiro Telles.
Isabel Mota, presidente da Fundação, lembra “o amigo e visionário que inspirou gerações de arquitetos paisagistas, responsável, em conjunto com António Viana Barreto, pelo desenho do jardim da Fundação Gulbenkian, um espaço que se tornou emblemático para todos os que diariamente aqui esquecem o bulício da cidade”.
A nota da Gulbenkian faz referência à biografia do arquiteto nascido em 1922. "Formou-se em Agronomia e Arquitetura Paisagista em 1950, no Instituto Superior de Agronomia, tendo desempenhado diversos cargos políticos e participado na fundação de instituições referenciais no panorama da cultura nacional. Publicou vários livros e artigos", indica a nota.
"Foi agraciado com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago (1969), Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1988), Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1990). Internacionalmente, destaca-se: o Prémio da Latinidade Troféu Latino «João Neves Fontoura» (2010) e o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe (2013)."
"Em 1950 e 1957, Ribeiro Telles é candidato à Assembleia Nacional pelos Monárquicos Independentes, em 1961 pela CEUD; em 1969 é co-fundador do Partido Popular Monárquico (PPM) e em 1993 é cofundador do Movimento Partido da Terra; entre 1974 e 1976 é subsecretário de Estado do Ambiente e secretário de Estado de Ambiente; de 1981 a 1983 desempenhou as funções de Ministro da Qualidade de Vida; foi deputado da Assembleia da Republica pelo PPM em 1975 e, em 1985, volta novamente ao Parlamento como deputado independente pelo Partido Socialista. Em 1985 é Vereador da Câmara Municipal de Lisboa pelo Movimento da Terra."
"Da sua passagem pelo governo nasceu um conjunto de decretos-lei que foi determinante para a definição de uma política de ambiente e de paisagem, destacando-se a Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional", lembra, ainda a nota da Gulbenkian.
A nota fecha destacando algumas das suas obras:
Mata de Alvalade (1951-1955); Plano de Urbanização da Quinta Grande em Oeiras (1953); Ajardinado da Avenida D. Rodrigo da Cunha (1953); Alvalade Bairro das Estacas (1953) Enquadramento da Capelinha de São Jerónimo (1953-1959); Alfama e Castelo- Enquadramento Verde (1953-1959); De 1959 a 1969, juntamente com António Facco Viana Barreto, desenha o jardim da Fundação Calouste de Gulbenkian. Em 1958 já havia sido convidado pelo Eng. Guimarães Lobato a desenhar o Jardim das Instalações Provisórias da Fundação; Shell Banática Integração e Valorização Paisagística (1963); A pedreira da Tijocal (1963); Estudo Geral do Enquadramento Paisagístico do Vale da Ribeira de Algés (1967); Prainha – Três Irmãos Revisão do Plano de Urbanização (1969); Plano Integrado de Almada (1971-1976); Jardim na mata dos Medos (1994).