Estudo revela que 60% dos enfermeiros trabalha entre as 40 e as 70 horas por semana. É o que conclui uma análise sobre as condições de trabalho e vida dos Enfermeiros em Portugal apresentado, esta sexta-feira, em Braga, no VI Congresso dos Enfermeiros.
“Só 40 % dos enfermeiros é que cumpre um horário de trabalho entre as 35 e as 40 horas. Os outros 60% trabalha entre as 40 e 70 ou mais horas, sendo que um quarto desses profissionais trabalha 65 horas e 16% chega às 70 horas ou mais”, revela Raquel Varela do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho.
Para a coordenadora está-se perante um horário de trabalho “à la Séc. XIX”. Condições idênticas “só encontramos com os estivadores antes da pandemia”.
Outra conclusão do estudo é “o risco” que as condições de trabalho representam para a saúde dos profissionais e para o exercício da profissão. “Este tipo de situação potencia os erros”, alerta.
Uma realidade de sobrecarga de trabalho que é transversal a todo o país e que, para a investigadora, acontece porque “os buracos na lei” têm permitido dar “uma falsa solução para os baixos salários”, justifica.
“A maioria destes profissionais situa-se num intervalo de rendimento que não lhe permite pagar contas essenciais com o salário base e, portanto, a resposta tem sido trabalhar em dois sítios, no público e no privado, ou fazer horas extraordinárias”, explica Raquel Varela.
É preciso, por isso, “inverter políticas”, defende a docente e historiadora. “Parece-nos absolutamente essencial elevar os salários e reduzir os horários de trabalho. Estas são suas condições sine qua non”, aponta.
O estudo nacional, o maior alguma vez feito, sobre a evolução da condição da enfermagem em Portugal, decorreu nos últimos dois anos e envolveu mais de sete mil enfermeiros. Um trabalho desenvolvido em parceria entre a universidade Nova, o Instituto Superior Técnico e o Observatório para as Condições de Vida e Trabalho para a Ordem dos Enfermeiros.
O VI Congresso dos Enfermeiros que reúne cerca de 1.500 profissionais decorre, até sábado, em Braga.