O Governo alemão sublinhou esta sexta-feira que há um "grande consenso" entre Alemanha, Portugal e Espanha para se fazer a ligação da Península Ibérica à rede energética do resto da Europa.
"Há um grande consenso por parte de Portugal, Espanha e também por parte da Alemanha de que seria sensato criar essa ligação", afirmou o porta-voz do Governo alemão, Steffen Hebestreit, numa conferência de imprensa em Berlim, citado pela agência de notícias EFE, poucos dias antes de uma visita do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, à Alemanha.
Segundo Hebestreit, esta questão "tem sido sempre tema de conversações anteriores" e atualmente "estão a discutir-se diferentes vias de como pode fazer-se da forma mais rápida e eficaz possível".
"Os desejos de espanhóis, alemães e portugueses são muito coincidentes" nesta questão, disse ainda, sem revelar se o assunto está na agenda da visita de Pedro Sánchez.
"O presidente do Governo, Pedro Sánchez, vai reunir-se no Palácio de Meseberg [perto de Berlim] na terça-feira, 30 de agosto de 2022, com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e vai participar como convidado de honra na reunião do Conselho de Ministros alemão", lê-se numa nota enviada à imprensa em Madrid pelo executivo espanhol esta sexta-feira.
O porta-voz do Governo alemão disse que aquele Conselho de Ministros vai abordar várias questões de política interna e externa, que o primeiro tema em debate será a estratégia de segurança nacional e que haverá "um convidado internacional", Pedro Sánchez.
Sánchez e o homólogo alemão, Olaf Scholz, têm prevista uma conferência de imprensa conjunta na terça-feira, disse ainda o mesmo porta-voz.
Entre os outros temas que o Governo alemão vai abordar no Conselho de Ministros extraordinário está o fornecimento de energia na Alemanha - num momento em que a Rússia ameaça cortar o envio de gás para o país -, a formação profissional e a estratégia digital alemã.
Scholz defendeu publicamente no dia 11 deste mês a construção de um gasoduto pan-europeu, que ligue a Península Ibérica, desde Portugal, à Alemanha, para permitir a distribuição de gás a partir de outras origens que não a Rússia e assim diminuir a dependência energética alemã e de outros países da União Europeia (UE) do gás russo.
As ligações para transporte de energia de Portugal e Espanha ao resto da Europa são quase inexistentes e os dois países da Península Ibérica têm pedido que se acelerem os projetos para construir gasodutos.
O objetivo é transportar gás liquefeito (e também hidrogénio, no futuro), uma vez que, por serem uma "ilha energética", Portugal e Espanha desenvolveram infraestruturas que permitem a designada "regaseificação" europeia a partir dos seus territórios.
Só no caso de Espanha, estão localizadas no país 30% das capacidades de regaseificação de toda a UE.
A Comissão Europeia também colocou, há poucas semanas, no contexto da guerra na Ucrânia e da ameaça russa, as interconexões entre a Península Ibérica e o resto da Europa nas prioridades de investimento nesta área.
Na quarta-feira, Sánchez reafirmou "a determinação de Espanha" em avançar com o gasoduto previsto para os Pirenéus e a unanimidade com Portugal nesta matéria, mas garantiu que avançarão ligações com Itália se França demorar o processo.
"O que quero transmitir é, primeiro, a determinação de Espanha em fazer esta interconexão, segundo, o apoio de todas as instituições comunitárias, desde logo, o apoio unânime dos dois Governos da Península Ibérica, de Portugal e de Espanha, e terceiro, se não avança o plano A, temos de passar ao plano B, que é a interconexão energética entre a Península Ibérica e Itália", afirmou Sánchez.
"Agradeço sem dúvida alguma o interesse do chanceler alemão Scholz nesta interconexão, mas se não se puder fazer por causa de dificuldades na política doméstica em França, há uma alternativa", que é "fazer uma interconexão entre Espanha e Itália", acrescentou. .
O líder do Governo espanhol lembrou que a própria Comissão Europeia definiu a ligação a Itália como "plano B", caso não avance o gasoduto nos Pirenéus.
"A partir daí, o que queremos é que se financie com dinheiro europeu", algo com que a Comissão Europeia está de acordo, afirmou ainda.