A Câmara dos Representantes dos EUA reconheceu oficialmente como genocídio o massacre levado a cabo por forças do Império Otomano contra cristãos arménios em 1915.
Feita a aprovação na câmara baixa do Congresso norte-americano, a lei passa agora para o Senado, onde será sujeita a novo debate e votação.
Há muitos anos que a questão do reconhecimento oficial do genocídio arménio tem sido alvo de debate e discussão, mas a Turquia opõe-se a qualquer passo nesse sentido. Nas últimas semanas, com a invasão do nordeste da Síria por parte da Turquia – que tem sido alvo de muitas críticas a nível internacional e dentro dos Estados Unidos – os defensores da declaração aproveitaram para a propor novamente a votação, na qual foi aprovada por larga maioria, com 405 votos a favor e apenas 11 contra.
O congressista democrata Adam Schiff deixou claro, em declarações à Reuters, que a decisão está diretamente ligada aos acontecimentos recentes na Síria. “Quando vemos as imagens de famílias curdas apavoradas no nordeste d Síria, a meter os seus pertences em carroças e carros, fugindo das suas casas para longe das bombas turcas e das milícias saqueadoras, como é que podemos dizer que os crimes de há cem anos estão no passado?”
A Turquia já reagiu, com Racep Tayip Erdogan, a dizer que se trata de algo sem qualquer valor. Ancara chamou o embaixador dos Estados Unidos para expressar o seu desagrado formal. O Ministério dos Negócios Estrangeiros considerou a decisão “incompatível com o espírito da nossa aliança na NATO” e pediu à administração de Donald Trump para rejeitar os apelos a mais sanções, feitos pelos congressistas.
A República da Turquia, que foi fundada nas cinzas do Império Otomano, em 1923, reconhece que muitos arménios perderam a vida em 1915 mas rejeita que o massacre tenha sido orquestrado e que se tenha tratado de um genocídio.
Calcula-se que tenham morrido cerca de um milhão e meio de arménios durante a perseguição, a que se juntam centenas de milhares de cristãos assírios, ou siríacos. Ironicamente, muitos dos cristãos que na altura fugiram das suas terras refugiaram-se no Iraque e no nordeste da Síria, que foi agora invadida pela Turquia.
Ao contrário da Turquia, a Arménia saudou a decisão tomada pelo Congresso americano. Numa declaração publicada pelo Ministério dos Negócios Etrangeiros, a Arménia diz que “esta resolução tem um significado profundo, na medida em que resolve comemorar o Genocídio Arménio através do reconhecimento oficial e da memória, rejeitar a sua negação e encorajar a educação e a compreensão da matança de 1,5 milhões de arménios às mãos do Império Otomano entre 1915 e 1923”.
O Governo arménio recorda que naquela época os líderes americanos fizeram grandes esforços para resgatar e auxiliar os sobreviventes do genocídio e que hoje uma grande comunidade arménia reside na América do Norte.
Caso a resolução ganhe força de lei os Estados Unidos juntam-se a outros países que já reconheceram oficialmente o genocídio, incluindo França, o Canadá, Itália, Bélgica, Brasil e a Santa Sé. Ao todo 29 países já reconheceram o genocídio. Nos Estados Unidos, apesar de ainda não se ter consumado o reconhecimento federal, 49 Estados já o fizeram.