Vários fundos de Roman Abramovich, no valor de vários milhares de milhões de dólares em ativos, foram transferidos para o nome dos seus filhos pouco antes da imposição de sanções ao oligarca russo.
O jornal "The Guardian" teve acesso a documentos que sugerem que dez fundos offshore secretos que beneficiavam Abramovich foram, rapidamente, alterados no início de fevereiro de 2022, três semanas antes do início da invasão da Ucrânia. Em causa poderão estar, pelo menos, quatro mil milhões de dólares, mas os valores poderão ser ainda maiores.
Segundo escreve o jornal nesta sexta-feira, a reorganização dos assuntos financeiros de Abramovich terá começado poucos dias depois de os governos ameaçarem impor sanções contra os oligarcas russos no caso de uma invasão.
Os documentos a que o jornal teve acesso sugerem que as mudanças terão sido feitas com o objetivo de proteger a fortuna do oligarca da ameaça de congelamento de ativos, tornando os seus sete filhos, um dos quais com apenas nove anos de idade, titulares de ativos no valor de, pelo menos, quatro biliões de dólares, incluindo propriedades de luxo, uma frota de iates, helicópteros e jatos particulares.
Especialistas em sanções citados pelo jornal, defendem que as alterações efetuadas poderiam “complicar os esforços para impor sanções contra o oligarca e potencialmente frustrar as tentativas de congelar ativos que se acreditava pertencerem ao magnata dos metais.”
As revelações, provavelmente, levantarão questões sobre se os filhos de Abramovich também devem estar sujeitos a congelamentos de bens. Ao contrário dos familiares de alguns dos conselheiros mais próximos de Putin, muitas famílias de oligarcas sujeitos a sanções evitaram restrições.
De acordo com o jormal, o FBI já tinha mencionado, em documentos oficiais, que acreditava que Abramovich tinha reorganizado dois fundos, um dos quais mantinha os jatos apreendidos, tornando os seus filhos beneficiários.
Os arquivos a que o "The Guardian" teve acesso sugerem, no entanto, que a alteração foi mais abrangente.
Os documentos parecem ter sido obtidos através de um hacker offshore com sede em Chipre, que administra os fundos de Abramovich. Os documentos foram compartilhados anonimamente com o "The Guardian".
Recorde-se que o multimilionário russo se tornou cidadão português em abril de 2021, ao abrigo da Lei da Nacionalidade, que confere cidadania a quem descender da antiga comunidade judaica sefardita.
Abramovich juntou, assim, a nacionalidade lusa às duas nacionalidades que já possuía: a russa e a israelita, tendo sido esta última obtida em 2018.
O processo levou o Instituto de Registos e Notariado a abrir um inquérito para avaliar se tinha havido algum tipo de irregularidade.