Para responder à ideia de o PS poder ter parceiros para uma nova geringonça à esquerda, o PSD quer mostrar que também tem capacidade de atração no seu espetro político e por isso, no congresso de Almada, muitos se pronunciaram a favor de uma coligação com os partidos à direita. A mesma pode até ser pré-eleitoral com o CDS a surgir à cabeça, mas há quem a imagine ainda mais alargada.
Fonte próxima da direção do PSD, sem querer ser citado, disse à Renascença que neste momento nada está fechado nesta matéria, relativamente aos centristas ou a outros partidos.
Mas acrescenta que a cúpula junto de Luís Montenegro estuda a hipótese de alargar uma coligação a partidos além do CDS.
A ideia pode passar por replicar a fórmula que levou Carlos Moedas à liderança a autarquia de Lisboa em que ao CDS se juntou o PPM, o MPT e a Aliança. Isso, acredita-se no seio dos sociais-democratas, passaria uma ideia de federação da direita mesmo sem ter a Iniciativa Liberal no boletim de voto.
O ex-deputado do PSD Duarte Marques defendeu à Renascença que “as vantagens de fazer uma coligação com outros partidos teria o simbolismo de representar uma aliança à direita, que pudesse dar mais confiança às pessoas e demonstrar que o PSD é um partido capaz de agregar”.
O mesmo salienta que do ponto de vista puramente aritmético, pode ser vantajoso “porque vai reaproveitar votos que de outra forma, em alguns sítios não iam ser utilizados para eleger ninguém, nomeadamente do CDS”.
Marques considera que é importante nesta fase dar força ao CDS, que “está numa situação difícil”. “Tem de se afirmar e renascer”, diz.
Um outro ex-deputado do PSD, que pediu o anonimato, alinha na mesma tese e considera vital para o PSD ter o CDS numa coligação pré-eleitoral. Argumentou que é a diferença que permitirá em ciclos como Portalegre e a Guarda tirar deputados ao PS e somar lugares para uma nova Aliança Democrática.
Este social-democrata chega a colocar uma coligação como “um caso de vida ou de morte” para o partido, uma vez que estas eleições são decisivas para o partido e todos os deputados ganhos vão contar para vencer a batalha contra os socialistas.
Duarte Marques afirma que a IL ainda está a crescer e que, por isso, não está interessado em coligações pré-eleitorais, mas “será perfeitamente normal fazer uma coligação pós-eleitoral”.
"Vantagens aritméticas"
Também Fernando Negrão, que foi ministro num governo do PSD em aliança com o CDS, considera que ter o partido de Nuno Melo numa coligação é perfeitamente natural e faz parte de “uma longa tradição” do partido.
“Há um outro partido que vejo com naturalidade para uma coligação que é Iniciativa Liberal, mas que não o quer fazer, quer apresentar as suas propostas sozinho”, sublinha.
Negrão pensa ainda que é necessário o PSD ter um espectro político cada vez maior e “nós precisamos de força política”.
“A força política, neste momento, é fundamental, porque os problemas do país são de uma enorme gravidade”, acrescentou, ao mesmo tempo que chamou a atenção para os “quadros de enorme qualidade” que o CDS ainda possui.
O líder da JSD, Alexandre Poço, apesar de defender que o PSD deve estar sempre preparado para ir a eleições sozinho é outro social-democrata a quem agrada uma aliança no CDS para apresentar com alternativa ao socialismo.
Poço reconhece também “vantagens aritméticas” numa aliança com os centristas, mas o mais importante seria apresentar “uma alternativa ainda com mais força aos olhos dos portugueses”.
Dentro do Complexo Municipal dos Desportos “Cidade de Almada”, várias figuras do PSD falaram do tema, um deles o histórico Nuno Morais Sarmento que lamentou que o PSD não tenha conseguido fazer uma coligação pré-eleitoral.
Alertou para que “o todo é mais do que a soma das partes e que esse sentimento de movimento, agregando a diversidade de opiniões, que permita aos eleitores reforçar a convicção de que é possível uma maioria não socialista”.
Referiu ainda que os “partidos que não quiseram coligação devem ser estimulados a mostrarem disponibilidade para conversar com o PSD”.
Por fim, o líder do PSD Algarve, Cristóvão Norte, tem uma visão um pouco diferente. Tal como os outros militantes considera que para o objetivo de conseguir mais mandatos poderia ser útil para o partido, mas se a coligação não for a três, com a IL, não tem sentido de existir.
“Só com os três e demonstraria força”, sublinha. Como não é possível, porque os liberais já se puseram fora desta hipótese, Cristóvão Norte diz que “não vale a pena” pensar em coligações pré-eleitorais.