O Reino Unido assinou na quarta-feira um acordo mútuo de defesa com a Finlândia e a Suécia, no caso de um dos países ser atacado. O compromisso permite que haja assistência militar entre as nações. Moscovo diz estar atento às decisões dos dois países que estão a ponderar uma entrada para a NATO.
Pode este tipo de acordos representar mais um risco de escalada no atual conflito?
O objetivo destes acordos na perspetiva ocidental – ou, pelo menos, destes países – é reforçar a segurança mútua e, nessa medida, dissuadir qualquer escalada. Na ótica da Rússia, esta é mais uma ameaça à sua segurança nacional e pode ser um argumento para uma atitude militarista do regime de Moscovo – naquela lógica usada por Putin para justificar a invasão da Ucrânia, que é a de que a Rússia ataca para se defender.
O que ficou definido nos acordos anunciados por Boris Johnson?
Os acordos de assistência mútua dão a garantia de que se, por hipótese, um destes países for atacado pela Rússia, o Reino Unido irá em seu auxílio. O eventual envolvimento inglês num conflito poderia arrastar a NATO, o que é um risco a ter sempre em conta.
A Finlândia e a Suécia são dois países com tradição de neutralidade.
O auxílio que o Reino Unido agora se compromete a dar será como na Ucrânia, com fornecimento se armas e outros equipamentos?
A natureza exata da assistência mútua, de acordo com o que foi dito pelos dirigentes dos países signatários, irá depender do que for requerido por esses países. O alcance será mais largo do que o que sucede com a Ucrânia, onde o Reino Unido e os outros países da NATO não intervêm diretamente. Neste caso, e em teoria, se a Suécia ou a Finlândia pedissem, poderiam ser enviados também soldados britânicos para defender estes países, um pouco à semelhança do acordo de defesa que existe entre os países da NATO.
Há uma mudança histórica da Suécia e da Finlândia?
Ambos já manifestaram a intenção de pedir a adesão à NATO e tudo indica que vão acabar por entrar e que o processo pode ser até relativamente rápido, mas até lá estão por conta própria. Recorde-se que os membros da Aliança Atlântica têm um acordo entre si. A principal razão de ser desta organização está relacionada com o artigo 5.º do Tratado, segundo o qual, se algum dos países for alvo de ataque militar externo, os restantes Estados-membros comprometem-se a defendê-lo, considerando que o ataque a um é um ataque a todos.
Finlândia e Suécia nunca entraram para a NATO. Porquê?
A Finlândia, que faz fronteira com a Rússia, ficou fora da NATO por razões que têm a ver com uma cláusula imposta no acordo de paz assinado com a União Soviética, no final da Segunda Guerra Mundial.
No caso da Suécia, foi mais uma opção de princípio pela neutralidade nacional que o país há muito alimenta e que, aliás, permitiu à Suécia ser mediadora de vários conflitos internacionais ao longo das décadas.
Contudo, nos últimos anos, tem havido uma aproximação progressiva ao Ocidente, quer da Suécia quer da Finlândia, primeiro com adesão à União Europeia, em 1995, e agora em rota para a NATO, que parece também irreversível.