O líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa acusou esta segunda-feira o presidente da autarquia de “desnorte” em matéria de habitação, argumentando que Fernando Medina incentivou o alojamento local apenas enquanto lhe foi “politicamente expediente”.
“Depois de ter vindo a público pedir a demissão das chefias responsáveis pela gestão da pandemia (nas quais se inclui), vem agora reconhecer o falhanço das políticas de habitação pelas quais é responsável e que tanto jeito deram na sua projeção política quando equilibrava as contas da câmara, à custa do IMT”, começa por afirmar Luís Newton, num comunicado enviado às redações.
Esta posição surge na sequência de um artigo de opinião do presidente da autarquia lisboeta, Fernando Medina (PS), publicado no sábado, no jornal ‘The Independent’, e cujo título dizia: "depois do coronavírus, Lisboa vai livrar-se dos Airbnb [plataforma 'online' com imóveis de alojamento local] e transformar os arrendamentos de férias de curta duração em casas para trabalhadores essenciais".
Entretanto, o título da publicação foi hoje alterado para: "Depois do coronavírus, Lisboa está a substituir alguns Airbnbs e transformar os arrendamentos de férias de curta duração em casas para trabalhadores essenciais".
Na nota divulgada pelo PSD, Luís Newton refere que os sociais-democratas sempre defenderam “a iniciativa privada, com a salvaguarda de que isso não podia vir em prejuízo da habitabilidade da cidade”.
“A contrastar com a nossa coerência está o desnorte de um presidente que parece sempre um peixe fora de água. Que promete 6.000 casas num mandato e que não consegue arranjar nem uma. Que incentiva o alojamento local de forma descontrolada e desequilibrada no território enquanto lhe é politicamente expediente, mas depois quando o cinto tem de ser apertado se posiciona para espoliar pequenos empresários quando eles estão no seu momento mais frágil”, defende o líder a bancada social-democrata na assembleia municipal.
Na opinião de Luís Newton, Medina “não pode diabolizar aqueles que investem na reabilitação da cidade e precisam do alojamento para garantir o rendimentos das suas famílias só porque não planeia e não consegue cumprir promessas eleitorais.
“O presidente da câmara municipal não percebeu a dica que enviou ao próprio na semana passada. Esta semana, usa de novo o seu espaço de comentário para testar ‘soundbites’ irresponsáveis para campanha interna do PS, deixando sempre os interesses dos lisboetas para segunda plano na altura em que mais precisam de liderança séria e responsável”, escreve o também presidente da Junta de Freguesia da Estrela.
“Na semana passada, sugeri que se ouvisse a si próprio, que fosse consequente e que saísse. Esta semana peço-lhe de novo que ouça o que diz e pense no que fez. Que se lembre quando dizia que a cidade precisava era de se preparar para mais turistas e tornava a cidade inabitável. De quando espremia os lucros do Airbnb aos pequenos empresários para aumentar a receita da câmara. Pense se faz sentido depois de todo este discurso regulador, nesta altura de catástrofe económica e destruição dos rendimentos das famílias, estar a ir para a televisão reverter radicalmente o rumo e debitar o programa do Bloco de Esquerda”, acrescenta.
Na sequência das declarações do presidente da Câmara de Lisboa, a Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) também exigiu hoje um esclarecimento à autarquia sobre esta intenção de transformar casas de alojamento local em habitação para trabalhadores.
A agência Lusa questionou o município sobre estas declarações, pedindo mais esclarecimentos, mas não obteve resposta até ao momento.