Se a pandemia é difícil para todos, imagine para quem tem algum tipo de deficiência mental e para os seus familiares. Foi o que sentiram os responsáveis da Associação Portuguesa dos Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Gaia.
Quando a pandemia estalou, as dificuldades começaram no mais básico, fazer cumprir as regras Covid. “Estes jovens precisam muito do toque, tocar na pessoa e portanto houve dificuldade em fazê-los entender que havia limitações”, explica Joaquim Queirós, presidente da APPACDM.
A instituição tem a seu cargo 500 utentes desde crianças a adultos com 60 anos. Quando tiveram de fechar portas, os trabalhadores desdobraram-se em telefonemas, até porque muitos dos utentes têm “pais já de alguma forma com idades avançadas e, por isso, havia necessidade de manter o contacto nem que fosse telefónico”, para saber “como as coisas estavam a correr em casa”.
Joaquim Queirós explica que, neste tipo de pessoas, o ir para casa significa, em muitos casos, perder “as referências que tinham e as referências podem ser um monitor, um auxiliar, um colega de sala”.
O presidente da APPACDM, instituição com quase 50 anos de atividade, relata também a situação dos 24 utentes que vivem em regime residencial, para muitos quase 15 meses fechados, salvo as vezes que conseguiram inventar uns passeios.
“Quanto tínhamos possibilidade, arranjamos um motorista e um veículo de transporte e levávamos os miúdos à beira mar ou a um parque que fosse pouco movimentado, sempre com a preocupação de manter as distâncias. Foi uma forma que nós arranjámos de mitigar a situação”, descreve.
O presidente da APPACDM elogia o empenho dos 120 colaboradores, alguns que chegaram a ir para lay off, pois as receitas da instituição diminuíram quando os pais deixaram de pagar as mensalidades por completo.
Passados os tempos de maior aperto, Joaquim Queirós gostava que ficasse retida uma lição: “nós precisamos todos uns dos outros e há muita gente que infelizmente ainda não entendeu isto”, desabafa, explicando que se refere apenas aos “trabalhadores, não estou a falar apenas dos pais, estou a falar até de dirigentes de outras instituições, instituições afins, que têm de tomar consciência disto”.
No lado positivo da pandemia, Queirós elogia a prontidão das autoridades de saúde, da segurança social e da câmara de Gaia que permitiu que a pandemia fosse um pouco menos difícil.
Respostas Sociais à Pandemia é uma rubrica da Renascença com apoio da Câmara Municipal de Gaia que surge no seguimento da Conferência "Pandemia: Respostas à Crise" onde se debateu em maio de 2021 o papel das Instituições Sociais e do Poder Local.