O primeiro-ministro afirmou esta quarta-feira que o Governo cedeu “com muito orgulho” os seis helicópteros Kamov à Ucrânia, após um “pedido expresso” de Kiev, assegurando que Portugal continuará a fornecer material militar para que o país “se possa defender”.
No debate parlamentar preparatório do próximo Conselho Europeu, quinta e sexta-feira em Bruxelas, o deputado do Chega André Ventura questionou António Costa sobre os seis helicópteros Kamov que o Governo vai enviar para a Ucrânia.
Ventura questionou o primeiro-ministro se “se sente aliviado por dar estes seis Kamov”, tendo em conta que “nunca funcionaram” em Portugal, perguntando de seguida porque é que haveriam de funcionar na Ucrânia.
“Quer dizer, chegar ao fim do ano e dizer ‘Portugal deu seis Kamov à Ucrânia’, e depois o [Presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky dizer-lhe ‘ó senhor primeiro-ministro, eu agradeço-lhe muito, mas é que eles não pegam’. Eu acho que isto é desagradável”, disse Ventura, perante os aplausos e algumas gargalhadas da bancada do Chega.
Na resposta, o primeiro-ministro reiterou que o seu Governo condena “absolutamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia, e o apoio à Ucrânia tem que se manter”.
“Só mesmo o senhor deputado André Ventura teria tido o mau gosto de conseguir gracejar sobre uma tragédia como aquela que os ucranianos estão a sofrer pela guerra desencadeada por um autocrata inimigo da democracia e da liberdade, como é o senhor [Presidente da Federação Russa, Vladimir] Putin”, criticou António Costa.
No que se refere aos Kamov, Costa salientou que se trata de um “pedido expresso do Governo ucraniano”, que solicitou que o Governo português os cedesse.
“Não disse que não cedia, e cedemos com muito orgulho, da mesma forma como temos cedido outro material que nos tem sido solicitado pela Ucrânia, e continuaremos a ceder para que a Ucrânia se possa defender, em nome do direito internacional, para garantir a sua soberania nacional e a integridade do seu território”, sublinhou.
Perante as questões de alguns deputados do Chega sobre o facto de os helicópteros Kamov não funcionarem em Portugal, Costa respondeu que “na Ucrânia, pelos vistos, o Governo ucraniano acredita que vão funcionar”.
“Como eu também [acredito], como também já os vi a funcionar cá. E sei porque razão é que eles não funcionam cá”, referiu, em referência ao facto de não terem licença para operar por serem de origem russa.
Durante a sua intervenção, André Ventura citou também vários títulos de jornais, em que se podia ler que “Governo acredita que Nigéria vai entregar gás” ou “António Costa confiante em acordo europeu” sobre as interconexões energéticas.
“Com o devido respeito, que é muito, que eu tenho por si, nós estamo-nos nas tintas para aquilo que o senhor acredita, nós queremos é soluções para os portugueses, queremos é soluções para que eles não tenham que estar sempre a pagar mais”, disse André Ventura.
“Senhor deputado André Ventura, não me leve a mal, eu percebo que não acredite naquilo que eu acredito, mas há uma coisa que se devia interrogar, é quem é que acredita em si?”, respondeu António Costa.
Na passada quinta-feira, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, anunciou que Portugal vai enviar para a Ucrânia os seis helicópteros Kamov de combate a incêndios, atualmente sem licença para operar por serem de origem russa e um dos quais inoperacional.