Cerca de um terço dos peões atropelados mortalmente no ano passado tinham álcool a mais no sangue. Os dados são do Instituto de Medicina Legal, citados esta segunda-feira pelo Jornal de Notícias, e dizem respeito a 2022.
Segundo os números revelados, verifica-se um aumento das mortes na estrada relacionadas com o consumo do álcool, sendo que o aumento é particularmente notório nos peões. Das mortes registadas em 2022, cerca de 28% apresentavam uma taxa de 1,2 gramas de álcool por litro de sangue.
Entre 2021 e 2022, praticamente duplicou o número de infrações com taxa crime de álcool no sangue. Especialistas ouvidos pelo jornal pedem, por isso, uma fiscalização apertada nas estradas e um “programa sério” contra o alcoolismo nas idades mais novas.
Para o diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), Alain Areal, que se mostra preocupado com os números, é preciso olhar para a globalidade dos dados e não apenas para a realidade de um ano, referindo que “entre 2017 e 2021, a percentagem de peões com uma taxa igual ou superior a 1,2 g/l de álcool no sangue esteve sempre abaixo dos 17%”, enquanto em 2022, “os valores aumentaram vertiginosamente para quase 30%”.
Já para o presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACAM), João Ramos, é importante saber qual a localização dos acidentes, “se foram em zonas urbanas ou não, nas capitais de distrito, no Norte ou no Sul”.
Em declarações ao jornal, o responsável admite que os números podem ter a ver com o aumento das zonas de lazer para peões nos espaços públicos, nomeadamente em áreas urbanas como Lisboa, referindo que o fenómeno da “turistificação pode estar a causar este efeito colateral”, o de consumo de álcool na via pública.
Na visão de Joana Teixeira, presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, os números podem dever-se a um “abrandamento das campanhas de segurança rodoviária” sobre o consumo de álcool ao volante, defendendo que devem ser reforçadas “novamente”.
Para os especialistas, ouvidos pelo JN, é necessário um “maior esclarecimento sobre o efeito do álcool na condução”, além da existência de mais fiscalização nas estradas.
Os dados mostram um aumento expressivo da alcoolemia nos peões, mas também nos condutores, em que a taxa de álcool igual ou superior a 1,2 g/l esteve sempre acima dos 20% desde o ano de 2017.