O militante socialista Francisco Assis decidiu tomar uma posição pública em defesa de Vítor Constâncio, atestando que este "é um homem sério", criticando um "linchamento moral" e quem se refugia no silêncio.
Numa declaração pública enviada às redações, Francisco Assis diz ter a certeza que "Vítor Constâncio é um homem sério e singularmente qualificado no plano económico, que ao longo da sua vida prestou relevantíssimos serviços ao país".
E justifica a posição pública com essa convicção.
Mas não só, a declaração pública também é motivada pela ausência de posições: "Na vida pública há silêncios que desonram quem neles se refugia. Por isso aqui está a minha palavra".
O ex-deputado europeu afirma estar a assistir com "crescente repugnância a um insólito processo de linchamento moral" em relação ao papel de Vítor Constâncio, enquanto governador do Banco de Portugal, no caso da autorização dada pelo banco central à detenção por parte da Fundação José Berardo de uma participação qualificada superior a 5% e inferior a 10% no capital social do Banco Comercial Português SA e inerentes direitos de voto.
"Tenho assistido com crescente repugnância a um insólito processo de linchamento moral, cívico e profissional de um homem impoluto e superior como é Vítor Constâncio. Recuso-me a participar com o contributo do silêncio nessa infame campanha", refere o socialista.
De acordo com Francisco Assis, Vítor Constâncio "deu sobejas provas ao longo da sua vida de ser exatamente o contrário daquilo que agora se pretende insinuar que ele é. Homem de excecional brilho intelectual, economista de escol, político rigoroso e dotado de um sentido de Estado que o levou enquanto secretário-geral do PS e então líder da oposição a viabilizar ativamente uma revisão constitucional imprescindível para o país".
Assis diz mesmo que Vítor Constâncio "é uma das grandes figuras" da nossa vida pública democrática.
Num texto carregado de elogios sobre o ex-governador do Banco de Portugal, que tem estado sob intensa crítica dos deputados em relação ao caso da compra, por Joe Berardo, das ações do BCP através de um empréstimo contraído à Caixa Geral de Depósitos, Assis considera que o ex-vice-presidente do BCE nos últimos anos e nessas funções "prestou grandes serviços à Europa no seu todo e aos países economicamente mais débeis, como é o caso de Portugal, em particular".
Sem colocar em causa uma avaliação sobre a sua ação como Governador do Banco de Portugal, Assis diz que "pode e deve ser escrutinada. Só que esse escrutínio tem de obedecer a princípios de rigor e seriedade e incompatíveis com a verborreia demagógica a que temos assistido nos últimos dias".
Vítor Constâncio garantiu sábado, numa nota enviada à Lusa, que não participou na reunião do Conselho de Administração do Banco de Portugal (BdP) que autorizou a participação qualificada do investidor Joe Berardo no Banco Comercial Português (BCP).
"Recebi hoje do Banco de Portugal a informação de que não participei na Reunião do Conselho de Administração de 21 de Agosto de 2007, que decidiu não objetar à participação superior a 5% da Fundação Berardo no capital do Banco Comercial Português", referia a nota.
Sexta-feira o jornal Público revelou documentos, a que posteriormente a Lusa também teve acesso, que mostram que a operação de entrada de Joe Berardo no BCP tinha sido autorizada pelo BdP, mesmo sabendo que as verbas necessárias para essa operação provinham de um crédito de 350 milhões de euros contraídos junto da CGD.
Segundo esses documentos, dois membros da supervisão bancária do BdP, Carlos Nunes e Virgílio Mendes, assinaram uma carta em que se pode ler que "o Conselho de Administração do Banco de Portugal, em sessão de 21 de agosto de 2007, deliberou não se opor à detenção por parte da Fundação José Berardo de uma participação qualificada superior a 5% e inferior a 10% no capital social do Banco Comercial Português SA e inerentes direitos de voto".
Em 2015, segundo uma auditoria da EY à Caixa Geral de Depósitos (CGD), a exposição do banco público à Fundação José Berardo era de 268 milhões de euros, depois de uma concessão de crédito de 350 milhões de euros para compra de ações no BCP, dando como garantia as próprias ações, que desvalorizaram consideravelmente e geraram grandes perdas para o banco.