O Conselho Europeu informal (isto é, que não toma decisões, apenas discute) que hoje se realiza em Bruxelas será certamente dominado pelas questões financeiras, decorrentes da prevista saída do Reino Unido e das áreas onde a UE tem que investir mais, como a defesa e a segurança. Mas seria útil que também fossem abordados os problemas climáticos (seca, calor excessivo, inundações, etc.). Problemas que serão sobretudo sentidos no Sul da Europa. Esperemos que haja, pelo menos, contactos bilaterais entre A. Costa e M. Rajoy sobre a água dos quatro grandes rios que vêm de Espanha para Portugal e das ameaças ecológicas que pairam sobre parte dessa água.
A Europa “devia ter começado ontem” a preparar-se para secas e inundações do futuro, alerta um estudo da Universidade de Newcastle, liderado pela investigadora portuguesa Selma Guerreiro. Por cá, o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos, avisa que vai continuar a diminuir a precipitação média anual no território português.
Agora, em pleno inverno, aldeias de Trás-os-Montes estão a ser abastecidas de água transportada por camiões. Não há pasto para o gado, o que leva os pastores a venderem os cordeiros mais cedo do que o habitual. 97% do território do continente sofrem de seca, 10% dos quais estão em seca extrema.
Não é uma adversidade pontual, é uma tendência estrutural, que requer respostas de fundo. Por exemplo, evitar que mais de metade dos sistemas municipais de distribuição de água tenham, como desgraçadamente têm, enormes perdas e fugas. E que se estude a instalação de unidades de dessalinização de águas marítimas, já existentes em Espanha. Ou, ainda, que as autoridades promovam uma campanha a sério sobre o imperativo de poupar água, nos consumos domésticos, agrícolas e industriais.
Mas, como na próxima semana deve chover alguma coisa, a incapacidade do governo socialista para antecipar o previsível levará, como é hábito, ao esquecimento desta questão de fundo.