O comentador da Renascença Henrique Raposo entende que depois das eleições deste domingo, “há um recomeço do sistema político português, passado 50 anos do 25 de Abril”.
“O regime começou a ancorar à esquerda, por causa do peso que o PCP tinha. O PCP chegou até 16%. Essa âncora revolucionária ou reacionária radical passou para a direita, para o Chega”, sinaliza o comentador no seu habitual espaço d’As Três da Manhã.
Para Raposo, isso “muda por completo o mapa político português”, lembrando que “a charneira do regime foi sempre do PS e é agora o PSD, a AD. E cabe agora ao PSD, com sensatez, tentar governar com toda a Gente no Parlamento”.
Henrique Raposo diz que “tem que haver o esforço de enterrar de vez o machado de guerra”, explicando que foi António Costa que “criou uma divisão artificial, onde só havia dois blocos, como se o regime político português fosse algo parecido ao inglês, ao americano, onde só há dois blocos”.
“Nós não somos isso. O nosso sistema eleitoral privilegia a divisão de voto e isso implica que no Parlamento as pessoas se sabem entender”, reforça.
“Separar o trigo do joio, para encontrar o ovo da serpente”
Quanto aos votos no Chega, o comentador defende que “temos que saber separar o trigo do joio” pois, “como disse ontem o líder do PS, um milhão de portugueses não são todos fascistas e machistas e homofóbicos”.
“Há ali muito voto zangado de pessoas de classes mais baixas e nós temos que ir buscar essas pessoas. Temos que falar sem tabus de temas que nos incomodam: a imigração, a segurança, a corrupção. Esses temas não podem ficar para a extrema-direita”, aponta.
Na visão de Raposo, “não há temas de extrema-direita, há temas, e nós, no centro político, à esquerda ou à direita, mas no centro da moderação, o arco da moderação, temos que ter respostas para isso, sem medo, sem medo de sermos rotulados de racistas, de fascistas”.
“Esse medo tem que acabar, porque isso está-nos a prender e a criar ângulos cegos que nos impedem de falar para as pessoas”, destacando que “o Chega não está só a crescer à conta da direita”.
“O Chega cresceu à conta da direita, no início, mas agora está a crescer nos bastiões da esquerda”, observa, ilustrando com os resultados do partido em alguns pontos do país.
“O Chega anulou o PCP no Alentejo e em Setúbal, na margem Sul”, diz Raposo, avisando que “temos que separar o trigo do joio, para encontrar o ovo da serpente”.
Henrique Raposo comentou, ainda, os resultados obtidos pela Iniciativa Liberal e pelo Livre.
“A Iniciativa Liberal resistiu, o Livre subiu bastante e seguraram muitos eleitores jovens. E, a meu ver, está ali boa parte do nosso futuro, no sentido de que são os dois partidos europeístas, nasceram já no Portugal democrático, não são revanchistas, pensam Portugal comparando Portugal com a Europa - a de agora - e vão ser fundamentais no combate cultural, nas novas gerações contra o Chega”, aponta.