O Papa Francisco esclarece que o repto lançado em Lisboa, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), para a inclusão de “todos, todos, todos” na Igreja é para todos, seja qual for a sua idade, género ou orientação sexual.
“Penso que o apelo dirigido a ‘todos’ não tem discussão. Jesus é muito claro: todos”, disse Francisco no encontro privado que manteve com elementos da Companhia de Jesus, ordem a que pertence, como é habitual fazer em todos os países que visita.
Durante cerca de uma hora, no Colégio de São de Brito, em Lisboa, o Papa encontrou-se com perto de uma centena de padres, irmãos e outros elementos da comunidade, num diálogo que pediu que fosse aberto. “Perguntem o que quiserem”, disse Francisco.
O conteúdo do encontro é revelado agora esta segunda-feira, pela revista italiana “La Civiltà Cattolica” e pelo portal dos jesuítas em Portugal Ponto SJ.
Um dos jesuítas que teve oportunidade de lançar uma pergunta a Francisco foi João que, remetendo para o “todos, todos, todos” proferido pelo Papa no Parque Eduardo VII, descreveu o trabalho que faz no centro de Coimbra com jovens universitários “muito comprometidos com a Igreja, com o centro, muito amigos dos jesuítas, mas que se identificam como homossexuais”. João assegura que estes jovens “sentem-se parte ativa da Igreja, mas muitas vezes não veem na doutrina a maneira de viver a sua afetividade, e não veem no apelo à castidade um apelo pessoal ao celibato, mas sim uma imposição”.
Este jovem questiona ainda o Papa sobre como podem, “em termos pastorais, agir para que estas pessoas se sintam, no seu modo de vida, chamadas por Deus a uma vida afetiva sã e que produza frutos”.
Na resposta, Francisco reafirma que “o apelo dirigido a ‘todos’ não tem discussão. Jesus é muito claro: todos”. Já sobre a forma como os padres podem acompanhar, por exemplo, os homossexuais, Francisco aconselha ajudar “as pessoas a viver de forma a poderem ocupar esse lugar com maturidade, e isto aplica-se a todo o tipo de pessoas”.
O Papa foi também questionado sobre as críticas de que muitas vezes é alvo, até por figuras mais altas da Igreja.
“No ano passado passei um ano sabático nos Estados Unidos. Houve uma coisa que me impressionou muito e que, por vezes, me fez sofrer. Vi muitos, mesmo bispos, a criticar a sua maneira de conduzir a Igreja”, descreveu Francisco, um jesuíta português.
Sobre este tema, o Papa reconheceu que “nos Estados Unidos a situação não é fácil” e aproveitou a oportunidade para “lembrar a estas pessoas que voltar atrás é inútil”.
“Há quem se ponha de lado, quem ande para trás, são aquilo a que chamo ‘retrocedistas’. Quando se anda para trás, forma-se algo fechado, desligado das raízes da Igreja e perde-se a seiva da revelação”, acrescenta o Papa.
"Guerras" no centro das preocupações do Papa
Francisco foi ainda questionado sobre quais são as suas maiores preocupações.
“Obviamente que uma coisa que me preocupa muito, sem dúvida, são as guerras. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as guerras são incessantes em todo o mundo. E hoje vemos o que está a acontecer no mundo. Escusado será acrescentar palavras”, respondeu.
Neste relato agora tornado público, a última das nove perguntas dirigidas ao Papa foi sobre “qual é o papel [dos jesuítas] para colher os frutos desta Jornada Mundial da Juventude”.
O Papa reconhece que a JMJ “está a envolver muitos jovens em Portugal” e que é preciso garantir que essa “inquietação não se transforme numa memória do passado”.
Francisco descreveu a JMJ como “uma sementeira no coração de cada rapaz e rapariga" que deve “dar frutos”.
“Peço-vos que continuem, com os jovens que estão presentes, mas também com aqueles que não participaram. Aqui a água foi bem agitada, e o Espírito Santo aproveita para tocar os corações. Cada um destes jovens sai diferente, esta ‘diversidade’ deve ser mantida. E agora é a vossa vez: acompanhem-nos para que se mantenha e cresça”, incentivou.