Um inquérito da Associação Empresarial de Portugal (AEP) concluiu que os empresários consideram a experiência da semana de trabalho de quatro dias benéfica para quem trabalha, mas não para as empresas, indicando um "impacto negativo" nos lucros, na competitividade, na produtividade e na organização.
Os resultados do inquérito foram divulgados esta sexta-feira, dia em que o Orçamento do Estado para 2023 (OE 2023) foi aprovado no Parlamento. O Governo quer avançar com o projeto-piloto da semana de trabalho reduzida em junho do próximo ano.
Neste inquérito foram ouvidos 1.130 patrões e, para mais de um terço, a medida só serve aos funcionários, com outro terço a defender que "não será benéfica para nenhuma das partes" e apenas 10% a dizer que poderá ser “muito benéfica”.
Com uma redução de 20% nas horas de trabalho, sem corte salarial nem apoios, a semana de quatro dias é rejeitada por 94% dos inquiridos.
Os resultados demonstram ainda que 71% de empresários consideram a redução da semana de trabalho negativa ou muito negativa nos lucros, 70% apontam os efeitos na organização interna, 69% alertam para o impacto na competitividade e 65% sobre a produtividade.
O setor da indústria é o mais crítico.
Mesmo com apoios do Estado ou um corte de 10% nos salários, 86% considera a alteração pouco ou nada vantajosa.
Os resultados contrastam com os de um outro inquérito junto de trabalhadores portugueses divulgado no início do mês, em que mais de 80% dos inquiridos disse aprovar a semana de quatro dias de trabalho.
Mas também há vantagens…
A poupança energética é apontada por 40% dos patrões e 24% defendem a redução da possibilidade de acidentes de trabalho. São ainda reconhecidos benefícios na redução do absentismo e gastos de consumíveis.
As principais vantagens recaem sobre o trabalhador, já que a maioria refere melhorias no bem-estar pessoal (83%), na qualidade de vida (78%) e no apoio à família e nos custos com deslocações (76%).
Ainda assim, só 46% diz que esta experiência iria promover a permanência do trabalhador na empresa.
Em alternativa, a maioria dos empresários (77%) concorda com “uma total flexibilidade no modelo a adotar, “por acordo entre o trabalhador e as empresas", parcial ou totalmente.
“Portugal não está preparado”
Para o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, "a médio e longo prazo, a medida será negativa tanto para as empresas como para os trabalhadores”, sendo que “Portugal não está preparado” e “a semana de quatro dias vai no sentido contrário daquilo que o país necessita que é aumentar a produtividade e a competitividade".
O líder da AEP alerta ainda para os custos que a medida implica para as empresas, com a contratação de mais pessoal, o que vai aumentar o custo de produção, gerando preços mais altos para os consumidores e agravando a inflação.
Tudo isto num contexto em que as empresas têm dificuldade em contratar.