No passado fim de semana os participantes na COP26 esforçaram-se por alcançar compromissos sérios no combate pelo clima. Não foi possível um acordo com datas para o abandono dos combustíveis fósseis, mas pelo menos ficou a afirmação política de diminuir o recurso ao carvão para a produção de eletricidade.
Nessa mesma altura, em Abrantes, os trabalhadores despedidos da Central do Pego reclamavam continuarem com a central em atividade, usando carvão. Percebe-se e respeita-se o drama que é para muitos trabalhadores daquela central perderem o emprego de muitos anos e até décadas. Mas não houve qualquer surpresa: há muito que tinha sido anunciada a desativação da central do Pego. Pelos vistos, o Governo não tinha mais nada para oferecer aos trabalhadores despedidos do que subsídios de desemprego.
Na Central do Pego, como há um ano na refinaria da Galp em Matosinho, concretizou-se um passo no sentido da descarbonização da nossa atividade económica. Só que, num caso como no outro, a frase “ninguém poderá ficar para trás”, de que os políticos tanto gostam, foi desacreditada.
No caso da refinaria de Matosinhos o primeiro-ministro sacudiu a água do capote e responsabilizou a Galp por ter mostrado insensibilidade social (ao anunciar o encerramento daquela unidade mesmo em cima do Natal). Agora que se saiba nada se fez quanto aos despedidos da central do Pego. Ou seja, a conversa da “transição justa” para os combustíveis não poluentes perdeu qualquer credibilidade.
Os políticos, e não apenas a extrema esquerda, falam agora na necessidade de subir os salários, que de facto são muito baixos entre nós. Em relação à geração de jovens que sai das universidades como a mais qualificada de sempre, mas que depois, em Portugal, não arranja empregos com salários decentes, o primeiro-ministro prometeu agir.
Os dois candidatos à liderança do PSD também defendem salários menos miseráveis. Calcula-se que 11% dos trabalhadores com contratos laborais efetivos fiquem abaixo da linha de pobreza.
Mas, tal como desacreditaram o “slogan” da transição justa na descarbonização, os políticos arriscam-se a perder credibilidade quando defendem a subida dos salários. É que não basta proclamar uma boa intenção, importa saber o que propõem para que a subida salarial, a existir, não passe de uma ilusão momentânea, se não for acompanhada de medidas tendentes a melhorar a competitividade das empresas.
Na campanha eleitoral, que já começou, os políticos têm a obrigação de apresentar as estratégias claras para melhorar, a sério, o nosso triste nível salarial. Limitarem-se a “slogans” que depois a realidade irá desmentir não é aceitável.