O presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Paulo Nunes de Almeida, está convicto de que há "condições para voltar a aumentar as exportações" para Angola, mas não dá como certa a possibilidade de os números regressarem aos níveis do passado, quando a antiga colónia era o quarto país de destino das produções nacionais.
Ainda assim, o empresário está certo de que a visita do primeiro-ministro a Luanda poderá ajudar a criar um novo clima favorável aos negócios e ao investimento.
"O ano de 2017 já foi um ano de recuperação e acredito que, resolvidos esses constrangimentos, tenhamos todas as condições para voltar a aumentar as exportações. Voltaremos a colocar Angola num lugar mais favorável do que aquele que tem hoje", diz Nunes de Almeida, em entrevista à Renascença.
O que espera, em medidas concretas, da visita oficial do primeiro-ministro a Angola?
Acho que se pode abrir hoje a possibilidade de se eliminar a dupla tributação, que é, normalmente, um entrave para que os investimentos possam concretizar. Se isso acontecer, então, mais um passo vai ser dado no sentido de criar um ambiente mais favorável para as empresas.
O primeiro-ministro já admitiu essa possibilidade de eliminar a dupla tributação. Será decisivo para um melhor relacionamento?
A dupla tributação, muita das vezes, ocasiona processos de natureza administrativa, processos burocráticos que surgem antes que se possa chegar ao fim da linha. Se nós conseguirmos eliminar a dupla tributação, obviamente que será mais uma porta que se abre no sentido de ser um facilitador de negócios. Portugal, hoje, é o segundo maior fornecedor de Angola, mas há outros países que estão também com expectativa de poder vir aumentar os negócios com Angola e, portanto, temos de ter consciência de que estamos a trabalhar num mercado altamente concorrencial, num mercado complexo, designadamente naquilo que tem a ver com os pagamentos ao exterior e que foi um dos condicionalismos que fez com que as nossas exportações tivessem abrandado, nos últimos anos. Não nos podemos esquecer que Angola já foi o quarto destino das nossas exportações e hoje é o oitavo.
Como está essa questão das divisas?
A questão das divisas é sempre uma situação que diz respeito a cada uma das empresas e relativamente à qual as empresas não gostam muito de abrir o jogo, se assim se pode dizer.
Não é um processo fácil, porque todos nós temos consciência de que os pagamentos de Angola ao exterior são complexos, são lentos, são morosos. Direi que muitas das empresas têm sofrido muito com esse problema de transferência de capitais, mas cada uma delas tem tentado encontrar a melhor solução. Penso que a visita do senhor primeiro-ministro também tem na agenda aquilo que tem a ver com as linhas de crédito de apoio às exportações de Portugal para Angola e, obviamente, que essas linhas de crédito têm também que contemplar a capacidade que Aangola possa ter de fazer pagamentos ao exterior.
É possível, com o fim do chamado "irritante" no relacionamento entre os dois países, recuperar as exportações portuguesas para os níveis de um passado recente?
A água nunca passa duas vezes debaixo da mesma ponte. Portanto, o futuro nunca será igual aquilo que aconteceu no passado. Tivemos uma quebra nas exportações. O ano de 2017 já foi um ano de recuperação e acredito que, resolvidos esses constrangimentos, tenhamos todas as condições para voltar a aumentar as exportações. Voltaremos a colocar Angola num lugar mais favorável do que aquele que tem hoje.
A AEP vai continuar a incrementar as suas iniciativas em Angola?
Sim. A AEP é, em Portugal, a entidade responsável pela organização do pavilhão de Portugal na Filda. A Filda que se realiza a cada ano, é a maior feira, a maior mostra de produtos em Angola, é uma feira multissetorial. Temos tido essa responsabilidade nos últimos anos e vamos ter também a responsabilidade em 2019. Todas estas notícias são também muito favoráveis para a AEP, porque, quanto mais favorável for o ambiente para a concretização de negócios, maior será a nossa presença. O ano de 2019, também no âmbito da Filda, pode ser um ano de grande afirmação e Portugal poderá ter uma presença com muitas, muitas dezenas de empresas.