Seca ameaça produção agrícola. Que impacto vai ter no setor alimentar?
25-05-2023 - 08:00
 • André Rodrigues

Quase metade de Portugal está em situação de seca, cenário esse que se repete noutros países do sul da Europa. A baixa pluviosidade nos últimos meses e a aproximação do verão fazem prever um agravamento das disponibilidades hídricas, com consequências, sobretudo, na produção alimentar. Governo vai pedir ajuda a Bruxelas para desbloquear apoios ao setor agrícola.

A produção alimentar está ameaçada em vários países da União Europeia, incluindo Portugal. Em causa estão as previsões desfavoráveis quanto a um agravamento do quadro de seca em vários Estados-membros, sobretudo na região sul: Portugal, Espanha, Itália e Grécia.

No caso português, já nesta altura do ano, cerca de 40% do país está em situação de seca, com fortes impactos na agricultura. Beja, Évora, Faro, Portalegre, Santarém e Setúbal são as regiões mais afetadas pela falta de recursos hídricos.

É um problema transversal a toda a cadeia de produção alimentar ou só diz respeito a alguns alimentos?

Os riscos apontam, sobretudo, aos alimentos de origem agrícola, cuja produção depende da disponibilidade de água. Por exemplo, em Portugal e em Espanha, o azeite poderá ser fortemente afetado pela situação de seca.

De resto, o preço do azeite em Espanha disparou para valores recorde, dada a quebra muito significativa da produção, o que acabou por se traduzir num encarecimento do produto final.

Também em Portugal o preço do azeite na origem subiu mais de 50% em 2022 face ao ano anterior, muito por causa do aumento dos custos de produção.

Há alguma razão particular para destacar a produção de azeite?

Sim. O olival é a cultura com maior área ocupada em Portugal. De acordo com os dados mais recentes da Pordata, o país tem 380 mil hectares de olival, o que corresponde a 380 mil campos de futebol.

Em termos de área ocupada, seguem-se a produção de cereais e a vinha: logo, três culturas da base alimentar.

Portugal está em situação de seca desde janeiro. Os meses de março e de abril - tradicionalmente chuvosos - tiveram índices de pluviosidade muito reduzidos. Maio também está a ser um mês bastante seco e quente, sobretudo nestes últimos dias.

Portanto, tudo se conjuga para a impossibilidade de garantir as necessidades de rega para a produção agrícola.

Há soluções para este problema?

A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, reconhece que são necessárias medidas concretas de apoio aos agricultores. É essa a preocupação que o Governo leva a Bruxelas já na próxima reunião do Conselho Europeu de ministros da Agricultura.

Em causa está a utilização da água enquanto recurso fundamental para a produção de alimentos. Os Estados-membros do sul vão pedir à Comissão Europeia que aprove a utilização dos instrumentos previstos na Política Agrícola Comum para estas situações.

Um desses meios é a declaração do estado de seca, que permite desbloquear ajudas, nomeadamente financeiras, para apoiar a produção e para compensar as perdas dos agricultores.

O que dizem os agricultores?

Dizem que ainda é cedo para quantificar impactos, mas admitem que a seca deste ano vai deixar marcas muito significativas: olival, cereais, mas também as pastagens e o gado vão ser fortemente afetados.

Os produtores antecipam quebras muito significativas, que se vão traduzir em escassez de produtos e aumento de preços.